CONTRA O LATROGENOCÍDIO DO POVO LÍBIO


CONTRA O LATROGENOCÍDIO DO POVO LÍBIO



Mantemos a recomendação do vídeo de Jean-Luc Godard, com sua reflexão sobre a cultura européia-ocidental, enquanto a agressão injusta à Nação Líbia perdurar.




Como contraponto à defesa de civis pelos americanos, alardeada em quase todas as recentes guerras de agressão que promovem, recomendamos o vídeo abaixo, obtido pelo Wikileaks e descriptografado pela Agência Reuters

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Quem forma nossos mestres?, por Patrícia Costa

O Brasil conta hoje com mais de dois milhões de professores na Educação Básica, que ensinam cerca de 52 milhões de alunos. Em torno de 600 mil desses professores não possuem um diploma e outros 127 mil só têm o bacharelado, e não poderiam estar dando aulas. O governo federal vem trabalhando para mudar esta realidade, criando programas de financiamento como o Plano Nacional de Formação de Professores, que oferecerá pelos próximos anos 330 mil bolsas em cursos superiores para docentes da rede pública de ensino, e programas de estímulo à capacitação em serviço, como o Prodocência, o Programa de Consolidação das Licenciaturas, cujo objetivo é financiar atividades que fortaleçam a formação de futuros professores, aliando a teoria à prática docente.
Para a professora Maria Teresa Tavares, diretora da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), todas essas iniciativas são válidas, desde que tenham continuidade e permanência: “O Prodocência, por exemplo, tem tido bons resultados aqui na Faculdade. Temos mais de 300 estudantes envolvidos em projetos e estágios nas escolas. Estamos conseguindo criar um fórum de reflexão sobre a prática pedagógica que é fundamental para a formação docente. Mas essa medida deve se tornar uma política de Estado para poder se consolidar”.
Por enquanto, a professora não tem com que se preocupar. Desde que foi implantado pelo MEC, em 2006, o Prodocência já investiu R$ 11 milhões em 124 projetos. Em 2009, são mais R$ 11 milhões disponíveis.
Teoria X Prática
Apesar desses investimentos, o próprio MEC constatou, em recente avaliação, que 25% dos cursos de Pedagogia do país são ruins. Dos 763 cursos avaliados, 292 receberam notas 1 e 2. Isso significa que pelo menos 71 mil alunos estão sendo mal formados. O mais preocupante é que apenas 9 cursos tiraram 5, o conceito máximo.
Outro estudo, patrocinado pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação e a Cultura, confirma esse quadro. A pesquisa “Professores do Brasil: Impasses e Desafios” aponta, por exemplo, que, nos cursos de Pedagogia, onde se deveria preparar os professores para a fase da alfabetização, não há sequer um currículo voltado para a metodologia dessa fase, fundamental para a aprendizagem. “Muito se discute sobre as teorias pedagógicas, mas pouco se pratica. Há no Brasil uma cultura bacharelista não só nas licenciaturas. A nossa universidade repete um modelo europeu que privilegia a teoria. Mas o aumento da prática tem sido encarado nos currículos. O ‘como fazer’ é muito importante”, destaca a especialista.
Porém, essa preocupação ainda não se refletiu na rotina em sala de aula e, para muita gente, a falta de preparo do professor contribui para a má qualidade do ensino. Segundo o IBGE, o Brasil tem 11,5% de crianças de 8 e 9 anos analfabetas. Entre 10 e 14 anos, são quase 500 mil que não sabem ler nem escrever. O Provinha Brasil, uma avaliação para alunos do 2º ano do ensino fundamental, aponta que, no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e no Distrito Federal, por exemplo, mais de um terço dos estudantes estão abaixo do nível de aprendizado considerado adequado para a idade.
Qual é a saída? “As universidades têm autonomia para discutirem a melhor forma de modernizar os seus currículos, para atender as demandas da sociedade. A escola tem de mudar a vida das pessoas e deixar suas marcas. O professor é parte disso, e sua formação é fundamental para esse processo”, afirma Maria Teresa.
Outro dado que se destaca é o pouco interesse pela carreira do magistério. Se, por um lado, houve um crescimento na oferta de cursos de licenciatura no país nos últimos anos – um aumento de 65% entre 2001 e 2006 –, o ritmo das matrículas foi bem menor: 39%.
“ Todos os países democráticos encaram a escola como seu locus importante. É ali que nasce a sociedade mais justa, igualitária. Mas, no Brasil, não é assim. O professor se sente hoje um cidadão de segunda classe”, desabafa a professora. Ela reconhece, no entanto, que o governo federal vem tentando enfrentar isso, colocando o magistério como questão de política pública ao criar, por exemplo, um piso salarial único de R$ 950,00, o que vai mudar a realidade de profissionais de muitos municípios onde o salário não passa de R$ 450,00. Essa medida, porém, ainda pode demorar a reverter o grave déficit de 711 mil docentes no país, a maioria nas turmas do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e no ensino médio.
Infraestrutura educacional
A questão salarial é um dado crucial para atrair e manter as pessoas no magistério, segundo Maria Teresa Tavares, mas não é o único: “Nos últimos dez anos, conseguimos formar mais de 10 mil professores aqui na Faculdade da Uerj. No entanto, muitos acabam desencantados com a profissão pois, além dos baixos salários, precisam enfrentar as más condições de trabalho. Aqui no estado do Rio existem situações inacreditáveis, como sala de aula sem quadro negro e giz, coisas básicas, e aqui é um estado rico. Imagine o que acontece em cidades do interior do país!”
Por isso, ela desconfia de propostas governamentais de distribuição de computadores para professores e escolas, quando em muitas delas não há sequer papel para fazer provas. Para ela, é preciso equipar as escolas, ferramentalizar os professores, para então dar um passo em direção às novas tecnologias. “Deve-se priorizar o papel do professor e da escola na produção do conhecimento. O computador é uma ótima ferramenta, mas de nada adianta se ele não estiver inserido numa proposta pedagógica séria. É muito importante discutir nas instâncias de formação dos professores o uso e os contatos que temos hoje com essas tecnologias para que elas sejam cada vez mais apropriadas pelos docentes”, afirma a pedagoga, para quem nem sempre a tecnologia é a saída para tudo: “Às vezes, basta a voz e o conhecimento de um professor comprometido e bem preparado para fazer toda a diferença no aprendizado de um aluno”.

Extraído do site http://opiniaoenoticia.com.br, em 20/10/09

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