CONTRA O LATROGENOCÍDIO DO POVO LÍBIO


CONTRA O LATROGENOCÍDIO DO POVO LÍBIO



Mantemos a recomendação do vídeo de Jean-Luc Godard, com sua reflexão sobre a cultura européia-ocidental, enquanto a agressão injusta à Nação Líbia perdurar.




Como contraponto à defesa de civis pelos americanos, alardeada em quase todas as recentes guerras de agressão que promovem, recomendamos o vídeo abaixo, obtido pelo Wikileaks e descriptografado pela Agência Reuters

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O Movimento Sindical Americano, por Mateus Alves da Silva

- para o Coletivo Brasil 3000, em 13/05/11



foto DARREN HAUCK/REUTERS




O problema de se ter a atual imprensa funcionando como funciona é correr o risco de não saber determinadas coisas e saber outras em excesso.
Talvez poucos saibam, por exemplo, que Madison, Capital do Estado de Wisconsin, nos Estados Unidos da América, foi cerca de mês atrás palco de importante manifestação social da civilização ocidental moderna.

Explico.

Nada menos que durante quatro semanas, centenas de funcionários públicos e estudantes ocuparam pacificamente o saguão do Capitólio (sede do Governo de Wisconsin), no prédio rodeado por milhares de outros manifestantes, para protestar contra leis aprovadas por maiorias republicanas, que violentavam o sindicalismo do setor público. Paralelamente, aliás, o mesmo protesto estendeu-se a Harrisburg, capital da Pensilvânia, Richmond, na Virgínia, Boise, em Idaho, Montpelier , em Vermont, e Columbus, em Ohio, além de Los Angeles, São Francisco, Denver, Chicago, New York e Boston, onde as pessoas foram às ruas manifestar apoio aos chamados insurgentes de Madison, Wisconsin .





Curioso, aliás, o mote usado: “walk like an egyptian” (ande como um egípicio - título de hit musical dos anos 80), nítida influência do momento político mundial.

A importância desses protestos é manifesta, bastando dizer que estão sendo chamados de despertar do sono da imobilidade e da despolitização da classe trabalhadora estadunidense (conceito para nós tão estranho quanto o nome) após um sono de 75 anos, como em artigo de Rick Fantasia, professor de Sociologia no Smith College de Northampton, Massachusetts, publicado no Le Mond Diplomatique Brasil de abril/2011.



foto DARREN HAUCK/REUTERS


Segundo tal artigo, as manifestações foram desencadeadas pelas medidas que, tendo como pano de fundo cortes de orçamento falsamente em crise, na prática, privavam os servidores públicos de direitos sindicais, como o de negociação coletiva. Foram, ademais, desencadeadas pelo Governador de Wisconsin, Walker, ligado ao Tea Party, facção republicana de ultradireita, cuja campanha teve patrocínio da família Koch, das mais ricas do planeta e com membros antissindicais notórios, como David e Charles Koch, em momento no qual o setor público é praticamente a última reserva de campo de atuação sindical naquele país. Basta ver que no setor privado a participação de trabalhadores em sindicatos decaiu dos 33% de 1950 para os 7% atuais, após a manifesta adoção de medidas como terceirização do trabalho e desindustrialização de fábricas sindicalizadas.

Para minar o sindicalismo público, a legislação aprovada previa entre outras coisas a necessidade de eleição anual para se aferir a representação do sindicato, o fim da contribuição sindical automática e a limitação severa dos pontos passíveis de negociação coletiva, mantendo integralmente apenas a negociação salarial, mas, ainda assim, sem possibilidade de vinculação com a inflação.

A importância do sindicalismo americano, tão pouco freqüente em nossas notícias, decorre de ser, naquele país, mínima a regulamentação estatal de direitos sociais, ficando, portanto, a grande maioria dos trabalhadores, sobretudo braçais e não profissionalizados, na quase total dependência das negociações coletivas, para contar com um plano previdenciário decente, uma assistência médica digna, férias, licença maternidade etc. Só no Estado de Wisconsin, o sindicato dos servidores públicos congrega 300 mil pessoas.



Foto de Sue Peacock, Flickr.


Na mira das medidas tomadas pelos governadores achavam-se os professores de escolas públicas, trabalhadores de serviços municipais, médicos, motoristas, escrivães, funcionários de universidades e repartições jurídicas, policiais, bombeiros, notória base democrata.

Vale lembrar que tais medidas são acompanhadas de diminuição de impostos de empresas e das cobranças sobre as rendas dos ricos, cortes no crédito destinado aos mais pobres e aumento dos impostos para o funcionalismo. Cinicamente, Walker excluiu de tais medidas antissindicais as corporações dos bombeiros e dos policiais, categorias apoiadoras manifestas de sua candidatura.

Quatorze senadores democratas do Congresso Estadual apoiaram o movimento, ausentando-se do Estado para impedir o quorum de aprovação do projeto da lei sem serem forçados legalmente a participar da sessão. Permaneceram no vizinho Illinois por 3 semanas, inalcançáveis pelas leis de Wisconsin e pela sua polícia, aliás já acionada para monitorá-los caso retornassem.



Foto: AP

Quando retornaram, após a sessão, foram recebidos como heróis, aplaudidos por mais de 150 mil trabalhadores dos setores público e privado. O movimento do Wisconsin 14, de sair do Estado para impedir a votação, como ficou conhecido, foi repetido por legisladores democratas em Indiana

Tais manifestações foram seguidas de chamadas para greve geral e de petição para cassação de mandatos de oito senadores republicanos.

Pesquisas seguidas mostraram que entre 60% e 70% da população americana apóiam os sindicatos e os direitos coletivos de negociação, sendo que houve um retrocesso, nos estados da Flórida e Nova Jersey, das posturas ofensivas aos direitos sindicais anunciadas. O fato transformou-se, em suma, em questão nacional, talvez de dimensão parecida com a dos Direitos Civis em décadas passadas.

Por aqui, no entanto, quase não se teve notícia disso tudo. Nossa imprensa funciona como se houvesse somente cinco ou seis assuntos no mundo, os de sempre apontados pelas agências. Que vão, em grau de importância para nossas vidas, do Casamento do Papa João Paulo II, à morte da princesa inglesa ou à beatificação de Osama Bin Laden. Ou como quiserem.

O resultado disso pode ser que ela própria, a imprensa, qualquer dia desses se surpreenda com a profusão de coisas que de fato ocorrem. Fora do comando das agências de notícias, é claro.

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