CONTRA O LATROGENOCÍDIO DO POVO LÍBIO


CONTRA O LATROGENOCÍDIO DO POVO LÍBIO



Mantemos a recomendação do vídeo de Jean-Luc Godard, com sua reflexão sobre a cultura européia-ocidental, enquanto a agressão injusta à Nação Líbia perdurar.




Como contraponto à defesa de civis pelos americanos, alardeada em quase todas as recentes guerras de agressão que promovem, recomendamos o vídeo abaixo, obtido pelo Wikileaks e descriptografado pela Agência Reuters

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A verdade tardia será sempre uma meia verdade, por Pedro Porfírio

Os torturadores eram parte de uma engrenagem da qual muitos cabeças ainda hoje cantam de galo

"A democracia é um sistema que faz com que nunca tenhamos um governo melhor do que merecemos."
George Bernard Shaw, escritor e dramaturgo irlandês (1856-1950)

Quem diria: aquele a quem pretensos doutos alcunham de apedeuta está dando um baile, fazendo todo mundo dançar conforme a sua música. Algo jamais imaginável já que não havia em seu palrar sintomas do brilho ofuscante que impõe a cada um dos seus rivais as agruras dos distúrbios mentais e de um espernear à semelhança de arapongas gasguitas presas em alçapões. Pois é o que está acontecendo ao som do bolero de Ravel, num ambiente de fantasias meticulosamente espraiadas. Enquanto joga pesado ao meter o suspeito bedelho na negociata dos "caças" franceses, mais caros e mais custosos do que os suecos, ouriça as casernas, os órfãos da ditadura e anencefálicos despolitizados com o florear de um simulacro, essa hipócrita catilinária da caça ao rodapé da engrenagem que operou nos subterrâneos, sob mando e inspiração de quem jamais foi questionado por insuflar à barbárie, seja o baronato parlamentar encabeçado por esse mesmo Sarney que manda no governo Lula, sejam os maiorais da tropa d'antão ou essa mesma mídia que agora se pretende inocente daquilo com que colaborou servilmente de braços dados, enquanto enchia as burras. O catálogo do faz-de-contaDe repente, no alvorecer do ano da sucessão, o talentoso príncipe operário põe sobre a mesa 521 cartas para todos os gostos, oferecendo o melhor mel silvestre àqueles a quem subjugou por 7 anos de trapaças contundentes, como as rasteiras que levou ao humilhante desespero as plêiades da mais zelosa corporação aérea brasileira, particularmente os extorquidos do seu fundo de pensão. Que submeteu ao faz-de-conta os milhões de aposentados, pensionistas, subempregados, desempregados, esfomeados, sem terra e/ou sem arados. São 521 ofertas telúricas e afrodisíacas num catálogo esmiuçado que mais se afigura o supra-sumo de um placebo adocicado. São idéias tão delirantes que gan haram do novo espadachim Paulo Vannuchi, o até então discreto secretário dos Direitos Humanos, o epíteto de "transversalidade temática", ou, melhor dizendo, apenas idílicos logaritmos da matemática do embuste.E, no entanto, fraudes tão salientes pegaram os adversários com as calças na mão, levando-os ao segundo ato da farsa esboçada. Dentro e de fora das muralhas dos podres poderes todos sem exceção reagiram na medida certa, conforme o script.Fizeram o cavalo-de-batalha engendrado pelos feiticeiros do príncipe, armaram uma tremenda barafunda e mergulharam de cabeça no confronto do imaginário. Precipitado e de comprovado desequilíbrio emocional, o senador tucano Artur Virgílio decidiu assumir o papel de vilão, ao anunciar aquilo que regimentalmente é impossível e politicamente é obscuro: quer num só decreto legislativo anular as 521 tacadas que por si não passam de um velhaco sonho de uma noi te de verão.Quer dizer: o governo que passou sete anos pisando em ovos, que amarelou diante do sistema e convidou o banqueiro Henrique Meireles para dar as cartas, inventa um monte de fórmulas genéricas que agradam à massa iludível e, antes mesmo de configurar-se o blefe, aparece essa turma desassossegada da "oposição" e o sacramenta, para o gáudio da corte.Tivessem alguns desses "oposicionistas" folheado o irlandês Bernard Shaw, o espanhol Baltasar Gracian, o florentino Nicolau Maquiavel ou nosso sábio Barão de Itararé, provavelmente não teriam caído nessa esparrela. O homem inteligente não polemiza sobre hipóteses, muito menos sobre ilações ou sandices. O pior que ele pode fazer contra si é embarcar no confronto maniqueísta, mormente se virtual e se aceita o papel atribuído por seu adversário. Antes de pegar uma briga, precisa averiguar se a coisa é mesmo à vera. No caso mais relevante dessa nova batalha de Itararé, não dá para perceber o alcance real dos propósitos enunciados. Nesse ponto, os chefes militares mostraram um despreparo pueril. Primeiro porque, supõe-se, as gerações castrenses de hoje não têm nada em comum com os generais golpistas que eram subprodutos da segunda guerra mundial e sofriam influência direta dos oficiais norte-americanos e da chamada Escola das Américas (o golpe de 64 começou com o manifesto dos coronéis de 1953 contra João Goulart, então jovem ministro do Trabalho).E os que estão sendo torturados hoje?Depois, a bem da verdade, - posso afirmar como testemunha ocular dos fatos - a grande maioria da tropa rejeitava a ditadura e só não se insubordinava pelo medo de "fazer o jogo dos comunistas". Não foi por acaso que, ao contrário dos outros regimes de exceção do Continente, os nossos ditadores tinham dia e hora para entrar e sair do comando e não podiam pleitear um "segundo mandato". Com esse ardil, em que invariavelmente o sucessor não era bem um "correligionário" do outro (exceção de Figueiredo e Geisel) criava-se uma válvula de escape dentro do próprio estamento militar. É certo e incontestável que alguns poucos aloprados cometeram crimes de lesa-humanidade nos quartéis, mácula de que quem mais deveria ter interesses em livrar-se seria a tropa altamente profissional de nossos dias.Mas também não dá para aceitar que somente agora, quatro décadas depois, criem um palanque político e alcancem alguns sobreviventes daquela época como bodes expiatórios de uma farsa de tinturas revanchistas.Não dá para ver um torturador como um sujeito que agia por conta própria. E os mandantes? E eminências daquela época, como o senador José Sarney, que entre outros serviços sujos teve a missão de explicar á Embaixada Americana o AI-5? E os empresários que bancaram com muito dinheiro do caixa 2 as operações de extermínio dos adversá rios de um regime que se sustentava pelas armas, depois de derrubar um presidente constitucional e rasgar a Constituição?Pelos meus cabelos brancos, sou forçado a descrer na repentina "boa intenção" de um governo que nada faz contra os torturadores de hoje, os policiais que só no Estado do Rio de Janeiro, em um ano, mataram mais jovens "suspeitos" do que em todos os 20 anos de ditadura no país. Ou torturar e matar pretos, favelados e marginalizados é diferente de dar porrada nos jovens de classe média que, envoltos no mais puro idealismo, mas conscientes do risco que corriam, se tornaram insurgentes? Como vítima daqueles dias, eu não aceito que transformem agora, neste momento, com tanto atraso, casos tão complexos em palanques políticos que, em última instância, visam tudo, menos restaurar uma verdade que, por tardia, não pode ser uma meia verdade.

publicado no blog www.porfiriolivre.com e recebida para publicação em 10.01.10

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