CONTRA O LATROGENOCÍDIO DO POVO LÍBIO


CONTRA O LATROGENOCÍDIO DO POVO LÍBIO



Mantemos a recomendação do vídeo de Jean-Luc Godard, com sua reflexão sobre a cultura européia-ocidental, enquanto a agressão injusta à Nação Líbia perdurar.




Como contraponto à defesa de civis pelos americanos, alardeada em quase todas as recentes guerras de agressão que promovem, recomendamos o vídeo abaixo, obtido pelo Wikileaks e descriptografado pela Agência Reuters

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Em sociedade tudo se sabe, até os bastidores da Lei de Anistia..., por Hildegard Angel

Queiram ou não, o Brasil cumprirá seu destino de ser uma Nação na melhor acepção do termo. Se não for por decreto de Lula, por lei do Congresso, poderá ser através do Supremo Tribunal Federal, no qual o Conselho Federal da OAB ajuizou ação, no ano passado, assinada por Cesar Brito e Fabio Konder Comparato. A ação da OAB, que tem o ministro Eros Grau como relator, propõe que o STF dê uma interpretação da Lei de Anistia de que não há anistia para torturadores.Verdade é que o Supremo está dividido nessa matéria. Mas será bem melhor que a solução venha por ele e não pelo Congresso, o que abriria espaço para as viúvas da ditadura e outros protagonistas do negro passado ocuparem a tribuna e a imprensa para dar interpretações que favoreçam as próprias biografias e não o rumo histórico deste país.

A tortura é um crime de lesa humanidade que não prescreve. Para nosso vexame, corre até um processo contra o Brasil na Corte Interamericana de Direitos Humanos, para que não haja prescrição para quem trucidou na guerrilha do Araguaia.

A Comissão de Verdade e Justiça defendida pelo ministro Paulo Vannuchi é um processo de redenção definitiva. Ela honra as famílias vitimadas, preserva a honra nacional, é digna e importante. Na África do Sul houve Comissão da Verdade com o bispo Desmond Tutu. Na Argentina ela foi presidida pelo escritor Ernesto Sábato. O Brasil não fez isso antes, errou em não fazê-lo. Nossa Constituinte que passou a limpo tanta coisa, não o fez.

Embora muitos queiram colocar um véu escuro sobre ela, a tortura no Brasil foi uma coisa terrível. Em 1979, quando a Lei de Anistia foi sancionada, havia 53 presos políticos em presídios de todo o país. A quase total maioria estava em greve de fome já por 33 dias. Preferiam morrer à míngua do que continuar vítimas de tanto sofrimento. Conjuntamente, eles redigiram uma carta listando 251 militares e carcereiros envolvidos em torturas, “dos quais 80 nos torturaram diretamente”.

Eles também denunciavam em sua carta: "Há 27 centros de torturas espalhados pelo país". Vinte e sete centros de torturas! Sem falar nos off-Broadway da tortura, como a famosa casa de Petrópolis etc. Que vergonha, que vergonha para todos nós, meu Deus! E agora vemos políticos e jornalistas — avestruzes — insistindo em enfiar a cabeça na areia, ignorando o fato histórico, virando as costas para os compatriotas nossos que sofreram tamanhas maldades.

Se vocês tiverem paciência para escutar, vou contar os bastidores que engendraram essa Lei de Anistia, que veio num processo de desarticulação do bipartidarismo brasileiro. Não estou falando novidade. O historiador brasileiro José Honório Rodrigues, imortal da Academia Portuguesa de História, colocou isso em inúmeros textos. Em 1965, o golpe editou o AI-2, extinguindo todos os partidos políticos. A decisão foi tão radical que o nome "partido" era considerado subversivo e não podia ser usado. Aí surgiram Arena que não era partido, era "aliança"; e MDB que não era partido, era "movimento". O governo militar achava que, com o bipartidarismo, iria se eternizar no poder.

Mas as eleições de Marcos Freire e de tantos outros democratas em 1974, quando houve a grande derrota do governo e a Arena sofreu uma lavada geral, fizeram os militares verem que o bipartidarismo era um desserviço a eles. E o que decidiram os pensadores do governo, SNI, Golbery e outros? "Vamos acabar com o bipartidarismo e abrir geral para desarticular a sociedade civil brasileira". Achavam que também com a anistia, Ulysses, Prestes e Brizola nunca estariam juntos, que cada um criaria um partido, seria uma geleia geral e os conservadores continuariam a mandar no país. Então veio o pluripartidarismo e foi aquela onda de "marronzinhos" e "enéas" aparecendo no horário gratuito, distribuídos em mais de 50 siglas. Com isso, os estrategistas de plantão conseguiram dar uma sobrevida ao regime.

A própria agenda da Abertura girava em torno de receios da volta dos anistiados. Havia rumores de manobras de Ulysses Guimarães para que, quando voltassem os anistiados, eles se unissem e controlassem a ação política brasileira. Com o pluripartidarismo, a ideia era fracionar o MDB. Assim foi pensada a Lei de Anistia, pelos donos do reacionarismo: "acabando o bipartidarismo, eles vão ralar, se fragmentar e a sociedade brasileira vai ficar perdida por alguns anos". Dessa forma, eles poderiam sair a salvo com tudo isso, e o regime militar não teria derrota. E deu certo para eles. Vieram Brizola com o PDT, Lula com o PT, Ulysses e Waldir Pires com o PMDB, e o PDS (de cujo racha saiu o PFL) como sucessor da Arena. O que não foi a eleição do Collor se não um êxito provado desse projeto dos militares? A eleição de Lula é que foi a ruptura histórica.

Como testemunha desses fatos, cito o próprio ministro deles, Jarbas Passarinho que considerou: a inteligência estava em saber claramente ser muito pouco provável que Prestes e Brizola se unissem. Disse também que a partir do momento em que os "rios" estivessem independentes, a Arena estaria maior. Assim foi urdida uma anistia consentida, controlada, diferente das verdadeiras com as da África do Sul, Chile, Argentina. Nossa anistia foi um processo de conciliação das elites. Para explicá-la nada melhor do que o pensamento de Lampedusa: "É preciso que tudo mude para que tudo continue como está".

O processo da Lei de Anistia tinha nove volumes, era um calhamaço daqueles, e foi discutido à exaustão no Congresso Nacional. E a questão dos torturadores não ficou à margem. Os debates no Congresso registraram vários discursos, dos deputados Airton Soares, Walter Silva e outros que colocaram claramente e com firmeza, que não deveria ser dada à lei uma interpretação que absolvesse os torturadores.

Como o Congresso era dominado pelo regime militar fez-se uma redação ampla, genérica da Lei de Anistia. Foi uma esperteza deles para, nas entrelinhas, conseguir perdoar quem cometeu torturas bárbaras. Com isso, eles ficariam bem na fita, na visão da História, jogando o assunto debaixo do tapete.

Este foi o processo histórico da anistia. Agora, o Brasil já se redemocratizou. E, ao contrário daqueles que dizem que “a Nação está pacificada e isso (discutir a anistia) vai criar problemas”, o problema existe sim, latente na nossa história. As famílias dos torturados e assassinados estão vivas. E a sociedade brasileira crítica também está viva. Deixo aqui, para nossa reflexão, o ensinamento de Hélio Pellegrino, das páginas de seu livro A burrice do demônio: "Olhar nos olhos da tragédia é dominá-la". Não podemos deixar de olhar nos olhos da tragédia brasileira para virar de uma vez por todas essa página infeliz da vida do nosso país.

- extraído da coluna "Reportagens Especiais", do Blog do Zé Dirceu, ( http://www.zedirceu.com.br/index.php?option=com_content&task=blogsection&id=5&Itemid=61), onde republicado em 21-Jan-2010, após publicação original no JB em 15/01/10,

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Filha de Lula teria respondido crítica do 'NYT' a filme

27 de janeiro de 2010 • 10h15 • atualizado às 10h19

O jornal americano The New York Times publicou, na terça-feira, uma carta atribuída à filha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na qual ela afirma que, ao contrário do que dizia reportagem da publicação, sua mãe não foi "abandonada" por ele. "Em primeiro lugar, minha mãe não foi 'abandonada'. Apesar do fim de seu relacionamento com meu pai, ele pagou todas as despesas médicas, incluindo a assistência pré-natal e o parto", afirma o texto assinado por Lurian C. Lula da Silva.
A reportagem, publicada no dia 12 de janeiro, afirmava que os produtores do filme Lula, o Filho do Brasil, que conta a história da infância e da juventude do presidente, foram criticados por suas supostas tentativas de "limpar" a história de vida de Lula, omitindo passagens como o abandono da então namorada Miriam Cordeiro, grávida de seis meses, quando ele tinha 29 anos. Segundo o NYT, os produtores disseram que deixaram de lado a passagem após a família de Miriam ter ameaçado processá-los.
"Ele me registrou no dia em que eu nasci. Isso não se encaixa no perfil de alguém que abandona mulheres grávidas", diz a carta publicada pelo jornal. O texto atribuído a Lurian afirma ainda que nenhum dos filhos de Lula foi mencionado no filme. "Então, por que eu deveria ser? Se o filme é sobre a trajetória do meu pai de pobre imigrante a líder sindical, onde meus irmãos e eu nos encaixamos?"
A carta finaliza afirmando que Lurian amou o filme. "Ele só reforçou minha admiração por esse homem, que não é apenas meu pai, mas também um líder mundial, simbolizando o 'homem comum'", diz."Eu concordo com o presidente Obama: Lula é o cara!"

-extraído do "Terra Notícias", em 27/01/10

sábado, 16 de janeiro de 2010

O HAITI, A TERRA, ESSAS COISAS, por Mateus Alves da Silva

-em 15/01/10
Na verdade, tomei conhecimento da tragédia ontem à noite, 14/01/10, quando regressava do meio dos pataxós no Sul da Bahia, onde estive sem rádio e sem TV certo tempo. Desconfiava que se tratava da Sra. Arns, embora as referências do grande Jonguinha, taxista e gente boa pataxó que me informava, sejam aquelas de que prá baixo é tudo Sul. Ele dizia que se tratava de uma mulher brasileira, do Sul, que ali, ironicamente, estava ajudando os outros e que levava a vida nesse sublime trabalho. Os nomes que me vieram à cabeça foram os da Dra. Arns, da pastoral e do Cardeal.
Na Tv, já em casa, hoje pela manhã, vi aquele caos.
E confirmei a morte da Dra Arns.
A vida esvai-se, e não sei se dormirei hoje apesar da noite em aeroporto ruim.
Tentei achar uma explicação para aquilo.
Não achei.
Lembrei-me do que li recentemente sobre a Filosofia Oriental Chinesa e sua visão sobre os seres e a criação.
Para ela, todos os seres são por assim dizer vivos.
Assim como tu e eu somos vivos, temos personalidades etc, os seres criados são vivos. O Sol é um ser vivo. A terra é um ser vivo. Aliás, um é yang, a outra é yin.
Fiquei imaginando o seguinte.
Assim sendo, sendo eles vivos, a terra há de ter vontade, há de ter a vontade mínima que seja, a vontade mínima de continuar a existir, de perdurar, de cumprir seu destino, não é mesmo?
Ora, se é capaz de ter vontade de existir, há de querer ao menos defender-se, fazendo, por conseguinte, o que lhe estiver ao alcance fazer para isso.
Imaginei mais: ora, a Terra há de querer fazer o que lhe estiver ao alcance fazer para sua defesa, como qualquer ser vivente faria...
Se é assim, posso admitir também que uma manifestação como essa a que se chamou terremoto não seja um ato de fatalidade, um resultado de posicionamento de placa tectônica etc e tal ou mesmo um resultado de situação climática; em suma, um resultado causado por fator externo. Posso admitir simplesmente que tenha sido um ato de vontade da Terra direcionado, objetivo.
A Terra teria atirado contra os homens violentamente.
As questões restantes seriam: o porquê desse contra-ataque e o porquê da escolha do Haiti ou mais especificamente da sua Capital.
As respostas que imaginei para a primeira questão foram as seguintes: a Terra se defendia de algo relacionado ao homem, que ela julgara realmente grave do ponto de vista da sua perpetuação.
Qual seria?
A existência dos haitianos que ela escolheu levar para o reino da Morte?
A existência dos "gringos" que ali estavam, incluindo a Dra. Arns, igualmente levados?
Pouco provável, pensei.
A própria existência humana sobre a sua face?
Não faz sentido, conclui.
Caso assim fosse, bastar-lhe-ia sacolejar-se como faz um cão, quando lhe incomodam as pulgas. Vale lembrar que as pulgas poderiam viver perfeitamente no cão, caso não o incomodassem com suas picadas. Um sacolejo só e seríamos varridos, ou melhor, lavados para as profundezas abissais do mar e de um mar de fogo e enxofre (Credo).
Não foi isso o que se viu.
Evidente, portanto, que não era o caso de destruir o homem.
Resta, portanto, a hipótese de que fosse destruir algo que cerca este.
O que e como?
Como - já vimos - foram atingidos duramente o Haiti e todos nós, de tabela, senão por mais nada pelo simples pavor de que aquilo também nos colha.
Para extinguir o quê, qual fator humano, foi o que tentei imaginar.
Não creio em alterações climáticas, em interferência no macro-sistema climático capaz de ser feita pelo homem de modo a colocar a Terra em perigo, salvo, é claro, por via de hecatombe, como, por exemplo, a do poder que se atribui à Bomba “h”.
Aliás, não creio em alteração climática, gerada por interferências em micros sistemas, capaz de colocar o próprio homem em perigo. Este, de certo modo, já se ajustou a tantos ciclos e há de continuar se ajustando.
Sou, no momento, adepto das teorias que falam das variações climáticas cíclicas e independentes da atuação humana e dos fatores novos que esta possa ter produzido.
Imaginei, portanto, que o perigo contra o qual se defendia a Terra é de outra ordem ou, se preferirem, de outra natureza. Mais profunda, aliás, diga-se.
Qual?
Qual perigo o homem traz, em si, para a Terra?
Disse, pela manhã à minha mulher, ambos com os olhos pesados de sono da noite em claro, o seguinte:
"A Terra tolera tudo, a Terra tolera o bem e o mal desde o início do homem. O que ela parece não tolerar é o desequilíbrio na nossa relação com ela e suas consequências.
E o que eu vejo como desequilíbrio terrível nessa confusão toda, como pai e mãe do desequilíbrio dessa merda toda, não é nada dessa bobagem que chamam de questão ecológica etc e tal. É o desequilíbrio das relações humanas e, por conseguintes, destas com a própria Terra. E vou procurar dar-te uma explicação: vivemos e tocamos a vida em geral, hoje em dia, em boa parte do globo terrestre, pautados pela filosofia e pela ética neoliberal que resumo como sendo essa coisa do cada um por si. Tu e eu, por exemplo, podemos dizer que levamos a vida da forma mais correta segundo tal padrão de pensamento vigorante. Vivemos politicamente corretos, por assim dizer, quando cuidamos de nós mesmos e de nossos filhos e família (nossas limitadas extensões) de acordo com esse mesmo padrão. Mas e se essa droga de padrão estiver errada do ponto de vista da continuação da espécie humana, componente aliás, ilustre da Terra?!... Não estaríamos agindo politicamente corretos do ponto de vista do padrão humano atual, mas de forma errada sob o prisma da defesa da Terra.
Em outras palavras, estaríamos certos e errados ao mesmo tempo, como creio que estamos nesse desequilíbrio causado pelo modo de pensar (e consequentemente de agir) ditado pelo padrão neoconservador que nos impôs (e admitimos a até sem perceber) a desmedida preocupação com o "eu próprio" em detrimento da preocupação com o outro e o todo. Um desequilíbrio. Um desequilíbrio que ultrapassa o conceito de bem e mal.”
Pois é, resumi minha conclusão, diante da minha mulher e de seus olhos pesados de tristeza e sono:“O que a Terra fez foi cuspir violentamente sobre o Haiti, para que esse nosso desequilíbrio não a afetasse tanto, como fatalmente ela seria afetada pela nossa extinção, cada vez mais próxima, como consequência inevitável desse desajuste.
Restou no ar a pergunta do "porquê o Haiti"?
Sei lá...
Deve ser porque a Terra o julgou capaz de sacrifícios tremendos. Assim como julgou capaz de sacrifícios tremendos a Dra. Arns e os demais voluntários que ela recolheu ao sono.

-para o Blog "Coletivo Brasil 3000" (coletivobrasil3000@blogspot.com) em 15/01/10

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A verdade tardia será sempre uma meia verdade, por Pedro Porfírio

Os torturadores eram parte de uma engrenagem da qual muitos cabeças ainda hoje cantam de galo

"A democracia é um sistema que faz com que nunca tenhamos um governo melhor do que merecemos."
George Bernard Shaw, escritor e dramaturgo irlandês (1856-1950)

Quem diria: aquele a quem pretensos doutos alcunham de apedeuta está dando um baile, fazendo todo mundo dançar conforme a sua música. Algo jamais imaginável já que não havia em seu palrar sintomas do brilho ofuscante que impõe a cada um dos seus rivais as agruras dos distúrbios mentais e de um espernear à semelhança de arapongas gasguitas presas em alçapões. Pois é o que está acontecendo ao som do bolero de Ravel, num ambiente de fantasias meticulosamente espraiadas. Enquanto joga pesado ao meter o suspeito bedelho na negociata dos "caças" franceses, mais caros e mais custosos do que os suecos, ouriça as casernas, os órfãos da ditadura e anencefálicos despolitizados com o florear de um simulacro, essa hipócrita catilinária da caça ao rodapé da engrenagem que operou nos subterrâneos, sob mando e inspiração de quem jamais foi questionado por insuflar à barbárie, seja o baronato parlamentar encabeçado por esse mesmo Sarney que manda no governo Lula, sejam os maiorais da tropa d'antão ou essa mesma mídia que agora se pretende inocente daquilo com que colaborou servilmente de braços dados, enquanto enchia as burras. O catálogo do faz-de-contaDe repente, no alvorecer do ano da sucessão, o talentoso príncipe operário põe sobre a mesa 521 cartas para todos os gostos, oferecendo o melhor mel silvestre àqueles a quem subjugou por 7 anos de trapaças contundentes, como as rasteiras que levou ao humilhante desespero as plêiades da mais zelosa corporação aérea brasileira, particularmente os extorquidos do seu fundo de pensão. Que submeteu ao faz-de-conta os milhões de aposentados, pensionistas, subempregados, desempregados, esfomeados, sem terra e/ou sem arados. São 521 ofertas telúricas e afrodisíacas num catálogo esmiuçado que mais se afigura o supra-sumo de um placebo adocicado. São idéias tão delirantes que gan haram do novo espadachim Paulo Vannuchi, o até então discreto secretário dos Direitos Humanos, o epíteto de "transversalidade temática", ou, melhor dizendo, apenas idílicos logaritmos da matemática do embuste.E, no entanto, fraudes tão salientes pegaram os adversários com as calças na mão, levando-os ao segundo ato da farsa esboçada. Dentro e de fora das muralhas dos podres poderes todos sem exceção reagiram na medida certa, conforme o script.Fizeram o cavalo-de-batalha engendrado pelos feiticeiros do príncipe, armaram uma tremenda barafunda e mergulharam de cabeça no confronto do imaginário. Precipitado e de comprovado desequilíbrio emocional, o senador tucano Artur Virgílio decidiu assumir o papel de vilão, ao anunciar aquilo que regimentalmente é impossível e politicamente é obscuro: quer num só decreto legislativo anular as 521 tacadas que por si não passam de um velhaco sonho de uma noi te de verão.Quer dizer: o governo que passou sete anos pisando em ovos, que amarelou diante do sistema e convidou o banqueiro Henrique Meireles para dar as cartas, inventa um monte de fórmulas genéricas que agradam à massa iludível e, antes mesmo de configurar-se o blefe, aparece essa turma desassossegada da "oposição" e o sacramenta, para o gáudio da corte.Tivessem alguns desses "oposicionistas" folheado o irlandês Bernard Shaw, o espanhol Baltasar Gracian, o florentino Nicolau Maquiavel ou nosso sábio Barão de Itararé, provavelmente não teriam caído nessa esparrela. O homem inteligente não polemiza sobre hipóteses, muito menos sobre ilações ou sandices. O pior que ele pode fazer contra si é embarcar no confronto maniqueísta, mormente se virtual e se aceita o papel atribuído por seu adversário. Antes de pegar uma briga, precisa averiguar se a coisa é mesmo à vera. No caso mais relevante dessa nova batalha de Itararé, não dá para perceber o alcance real dos propósitos enunciados. Nesse ponto, os chefes militares mostraram um despreparo pueril. Primeiro porque, supõe-se, as gerações castrenses de hoje não têm nada em comum com os generais golpistas que eram subprodutos da segunda guerra mundial e sofriam influência direta dos oficiais norte-americanos e da chamada Escola das Américas (o golpe de 64 começou com o manifesto dos coronéis de 1953 contra João Goulart, então jovem ministro do Trabalho).E os que estão sendo torturados hoje?Depois, a bem da verdade, - posso afirmar como testemunha ocular dos fatos - a grande maioria da tropa rejeitava a ditadura e só não se insubordinava pelo medo de "fazer o jogo dos comunistas". Não foi por acaso que, ao contrário dos outros regimes de exceção do Continente, os nossos ditadores tinham dia e hora para entrar e sair do comando e não podiam pleitear um "segundo mandato". Com esse ardil, em que invariavelmente o sucessor não era bem um "correligionário" do outro (exceção de Figueiredo e Geisel) criava-se uma válvula de escape dentro do próprio estamento militar. É certo e incontestável que alguns poucos aloprados cometeram crimes de lesa-humanidade nos quartéis, mácula de que quem mais deveria ter interesses em livrar-se seria a tropa altamente profissional de nossos dias.Mas também não dá para aceitar que somente agora, quatro décadas depois, criem um palanque político e alcancem alguns sobreviventes daquela época como bodes expiatórios de uma farsa de tinturas revanchistas.Não dá para ver um torturador como um sujeito que agia por conta própria. E os mandantes? E eminências daquela época, como o senador José Sarney, que entre outros serviços sujos teve a missão de explicar á Embaixada Americana o AI-5? E os empresários que bancaram com muito dinheiro do caixa 2 as operações de extermínio dos adversá rios de um regime que se sustentava pelas armas, depois de derrubar um presidente constitucional e rasgar a Constituição?Pelos meus cabelos brancos, sou forçado a descrer na repentina "boa intenção" de um governo que nada faz contra os torturadores de hoje, os policiais que só no Estado do Rio de Janeiro, em um ano, mataram mais jovens "suspeitos" do que em todos os 20 anos de ditadura no país. Ou torturar e matar pretos, favelados e marginalizados é diferente de dar porrada nos jovens de classe média que, envoltos no mais puro idealismo, mas conscientes do risco que corriam, se tornaram insurgentes? Como vítima daqueles dias, eu não aceito que transformem agora, neste momento, com tanto atraso, casos tão complexos em palanques políticos que, em última instância, visam tudo, menos restaurar uma verdade que, por tardia, não pode ser uma meia verdade.

publicado no blog www.porfiriolivre.com e recebida para publicação em 10.01.10

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O CAOS PROSSEGUE, por ADRIANO BENAYON

14.12.2009

O ano de 2009 termina sem ter acabado o caos nem a manipulação dos mercados financeiros. Ao contrário, ambos continuam aumentando.

A lógica aponta, há muito tempo, para o colapso final do sistema imperial do dólar - cada vez menos sistema, e cada vez mais caos. Entretanto, os controladores das finanças mundiais forçam a sobrevivência desse intolerável pseudo-sistema, causando estragos cada vez maiores.

Eles se valem para isso do imenso poder de corrupção acumulado mediante os ganhos inimagináveis das manipulações financeiras, por meio das quais são criados - do nada, nos discos rígidos dos computadores dos bancos centrais, dos Tesouros e dos grandes bancos e instituições financeiras - dezenas e até centenas de trilhões de dólares, exclusivamente para servir ao poder dos concentradores.

Respingam para a economia real frações desprezíveis da avalanche de moeda e de títulos inventados nos bits da informática, fazendo definhar a estrutura produtiva e deteriorar-se as condições de vida dos habitantes do planeta.

Nesse império do absurdo, a lógica é espezinhada junto com as pessoas. O poder financeiro, mais concentrado que nunca, se tornou absolutista, pois os atuais detentores do poder dispõem de meios tecnológicos de comunicação e de moldagem das mentes, que lhes permitem exercer totalitarismo muito maior que os monarcas dos Séculos XVI e XVII e as ditaduras do Século XX.

Transgênicos

Este é um caso exemplar da destrutividade reinante também na economia real, dita produtiva. Nela cresce o espaço dos produtos nocivos à saúde e à vida humanas, em prejuízo dos que lhes são favoráveis. Um dos exemplos mais candentes dessa escalada para liquidar a humanidade são os cereais e outros alimentos transgênicos.

No Brasil, apenas um governador, o do Paraná, tenta evitar essa calamidade, enquanto a grande maioria dos demais e o governo federal a promovem.

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), criada em 2005, beneficia as transnacionais da biotecnologia com aprovações consecutivas, e sem exceção, dos pedidos de liberação de variedades transgênicas no Brasil. Entre 2005 e o final de 2009, a CTNBio terá liberado o plantio comercial de duas variedades de soja, dez de milho e seis de algodão.

A EMBRAPA é a empresa estatal de pesquisa agropecuária. Depois de ter realizado excelentes desenvolvimentos, ela ficou controlada de fato pelas transnacionais, as quais, além disso, absorveram as firmas privadas de capital nacional do setor.

As sementes transgênicas são controladas, em âmbito mundial, por transnacionais: Monsanto, Cargill, Bunge, Syngenta, Bayer, BASF e Dow AgroSciences.

A CTNBio é composta por doutores pesquisadores da EMBRAPA - que ali tem cinco conselheiros – e de universidades, como USP, UFPE, UFRJ, UFMG, UNICAMP, UNB, UFV, UFRGS, UFES, PUC-RS, UFAL, UNIFESP E UEL. Também da ESALQ/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) de Piracicaba.

O x da questão é que a maioria absoluta dos conselheiros da CTNBio participa de projetos de pesquisa em associação com uma ou mais das transnacionais mencionadas. Isso explica porque essa Comissão aprovou, em maio deste ano, o milho transgênico da Bayer, altamente danoso. Isso se deu contra o parecer do Ministério da Agricultura e da EMBRAPA, sem que, entretanto, o governo, em defesa da segurança alimentar e da saúde pública, vetasse esse plantio.

Alguns dos efeitos destrutivos dos transgênicos são expostos por Ruy Nogueira no artigo “O sumiço das abelhas”, publicado em A Nova Democracia, junho de 2007 e por Marcos Arruda, em agosto de 2007, em “Brasil livre de transgênicos”.

Nos EUA, onde também já houve enormes danos à agricultura por causa dos transgênicos, alerta-se a respeito da extinção das abelhas e, consequentemente, da polinização, indispensável à reprodução das plantas.

Mesmo que não causasse esse terrível dano, capaz de acabar com várias espécies, inclusive a humana, o plantio dos transgênicos coloca os países que o admitem, inteiramente à mercê das transnacionais que dominam o mercado das sementes transgênicas e outras híbridas.

De fato, ficam os agricultores sem meios de obter sementes senão comprando-as do cartel mundial das transnacionais. Estas detêm total poder de impor preços e de chantagear, com a negação do fornecimento, os que não se curvem ao Império.

Não bastasse isso tudo, a dependência dos transgênicos obriga, ainda, a empregar herbicidas químicos específicos para esses plantios, como o glifossato da Monsanto, altamente danosos ao ambiente e à qualidade da terra, ademais de serem armas adicionais de extorsão, por meio do monopólio do fornecimento.

O modelo

De perversidade semelhante à vista no exemplo acima, há, sem dúvida, mais casos em outras indústrias, os quais ilustram como os interesses nacionais e os de cada um dos brasileiros são massacrados pelo abuso de poder de grupos concentradores sediados no exterior, decorrente do modelo econômico formado no Brasil desde 1954.

Em artigos, inclusive os dois mais recentes publicados em A Nova Democracia, “País Ocupado”, em novembro, e “País saqueado”, em dezembro, mostro que o Brasil, em conseqüência desse modelo, deixa de desenvolver o magnífico potencial que lhe deveriam assegurar seus maravilhosos recursos naturais.

A principal característica do dito modelo é oferecer todo tipo de vantagens e de subsídios para as empresas transnacionais se apossarem dos mercados de bens e de serviços no País. Ora, quem controla os mercados, controla o que se vai produzir para eles, a tecnologia de produção e a que preço os produtos vão ser vendidos.

Quem manda nisso tudo, concentra os meios financeiros para controlar também os meios de comunicação, o ensino nas universidades e nas escolas, as campanhas eleitorais, a escolha dos supostos governantes e tudo mais.

Artilharia contra a cultura

A liquidação das empresas industriais brasileiras de capital nacional, ao se consolidar o modelo que privilegia as transnacionais, inviabiliza a defesa nacional, mantendo o País inerme diante da ameaça permanente de intervenções militares. Mas outro importante meio, empregado pelo Império, para manter o Brasil dominado é a sistemática destruição de sua cultura, processo que ganhou intensidade desde a Segunda Guerra Mundial, em que o Brasil foi envolvido no início dos anos 1940, manipulado pelas potências anglo-americanas.

Isso se faz por meio da penetração de produtos fonográficos, cinematográficos, televisivos etc. destituídos de beleza e de arte, e plenos de agressão à sensibilidade auditiva e visual das pessoas, ademais de destruírem valores saudáveis. Com o empurrar incessante desses produtos durante o “entretenimento” e também nos intervalos de publicidade, conseguiram fazer habituar-se a eles dezenas de milhões de brasileiros, transformados, assim, em sujeitos passivos, capazes de tolerar qualquer tipo de violência e de desrespeito.

Além disso, o deslumbramento com o “primeiro mundo”, a adoção de seus valores utilitaristas e a adoração à riqueza material, faz que a pseudo-elite absorva em suas mentes a propaganda enganosa dos detentores do poder mundial quanto às pretensas vantagens do livre-comércio e da abertura da economia ao capital estrangeiro: em suma, da globalização. Assimilam-se também mentiras sobre as questões de poder internacionais, os motivos das guerras, das intervenções etc.

Guerra para emitir moeda internacional

Quem acredita nessas estórias e lorotas, acredita também que o Brasil não sofreu com o colapso dos mercados financeiros mundiais, imagina que a “crise” global acabou e que não há perigo algum para nós em que o Brasil continue atrelado ao pseudo-sistema monetário do dólar e a mercados manipulados ao bel-prazer dos concentradores financeiros.

Não é apenas a pseudo-elite e o grosso de sua classe política do Brasil, telecomandada do exterior, que se deixam iludir. Muita gente nos próprios países hegemônicos e em países a eles associados também é enganada por notícias distorcidas e interpretações enviesadas.

Ao lado da pressão dos hegemônicos baseada no poder militar, isso permite entender como têm sido possíveis algumas fases de recuperação do valor do dólar, interrompendo seu longo declínio.

É o que ocorreu na semana de 7 a 12 de dezembro. O dólar, que se havia se desvalorizado em 50%, desde o início do ano, em relação ao ouro, recuperou cerca de 10% nessa semana. A manipulação pró-dólar originou-se da divulgação do desemprego nos EUA, em novembro, por ter este aumentado bem menos que nos meses anteriores. Embora a taxa oficial se mantenha em 10% (era 4,9% há dois anos), magnificou-se o aspecto positivo daquele dado, se é que contém algo positivo.

Ou seja: com a irracionalidade telecomandada, um dado sem importância pode, ainda que temporariamente sobrepujar nos mercados os fatos realmente relevantes.

Que fatos são esses? Nada mudou na realidade: o dólar está hiperinflacionado e não há como sustentar seu valor, quer haja retomada da atividade econômica, o que é irrealista, quer prossiga a depressão, o que é provável.

Os dados relevantes estão na colossal oferta potencial de dólares nos mercados: 1) moeda em poder do público nos EUA mais saldos das contas correntes e travellers checks (M1): US$ 8 trilhões; 2) o M1 + depósitos de poupança, depósitos a prazo abaixo de cem mil dólares e contas para aposentadoria (M2): US$ 10 trilhões; 3) o M2 + depósitos a prazo acima de cem mil dólares, depósitos em eurodólares, saldos em agências de bancos dos EUA no exterior, saldos em fundos de mercados financeiros (M3): quase US$ 15 trilhões.

As reservas em dólares em bancos centrais (fora o FED) são estimadas em US$ 6 trilhões. Há, também, dezenas de trilhões de dólares em contas de bancos e de fundos em todo o mundo, inclusive paraísos fiscais e cerca de US$ 300 trilhões de derivativos. A dívida federal em mãos do público chegou a US$ 7,6 trilhões em 12.11.2009, e a federal total, a US$ 12 trilhões. A dívida total (federal, estadual, local e a privada), já atingira US$ 57 trilhões em maio deste ano.

Desde 2008 o colapso financeiro levou a emissões de US$ 23 trilhões (de moeda pelo FED e de títulos e garantias pelo Tesouro dos EUA). Agora, não falta muito para estourarem novas bolhas, como a dos mercados de ações e de matérias-primas industriais, e recrudescerem as bolhas mais antigas como a dos imóveis, juntando-se os comerciais aos residenciais, e surgirem mais títulos tóxicos nos derivativos e credit default swaps.

Para cobrir isso tudo serão necessárias novas e imensas emissões de dólares, e, neste fim de ano, perdura o quadro que caracterizou 2009: os bancos guardam o dinheiro emitido para eles pelo FED, para tapar novos rombos. Afora isso, usam parte dele investindo nas bolhas.

Esse potencial de oferta, de que citei alguns indicadores, implica que ninguém mais deveria aceitar dólares nas transações internacionais. Com efeito, quem recebeu essa moeda e formou reservas com ela já teve prejuízos de grande monta, mesmo antes de o potencial de oferta do dólar ter crescido com a velocidade incrível dos últimos dois anos.

A guerra de pressões e de manipulações, movida pelos concentradores anglo-americanos contraria as leis da economia, já que eles forçam contra o interesse dos envolvidos, a existência de procura por uma moeda contaminada por sua própria proliferação.

Apesar de terem abusado indecorosamente do privilégio, gerando os acima indicados volumes de dólares, esses concentradores não se conformam em perdê-lo. Querem continuar emitindo a seu bel prazer quantidades ilimitadas de moeda capaz de comprar riquezas reais de todo tipo, governos e até “consciências” em qualquer lugar do mundo.

A guerra apontada é continuação da que foi movida contra o Iraque, quando este não quis mais dólares em troca de seu petróleo. Está na “lógica” também do cerco ao Irã. E também é guerra de extermínio, pois prolonga e agrava o caos monetário, priva as atividades produtivas de financiamento e, em consequencia, faz enraizar-se ainda mais a depressão, com desemprego abrangente, duradouro e crescente.

* Adriano Benayon é Doutor em Economia. Autor de “Globalização versus Desenvolvimento”, editora Escrituras. abenayon@brturbo.com.br

Publicado em A Nova Democracia, nº 61 – janeiro de 2010.