CONTRA O LATROGENOCÍDIO DO POVO LÍBIO


CONTRA O LATROGENOCÍDIO DO POVO LÍBIO



Mantemos a recomendação do vídeo de Jean-Luc Godard, com sua reflexão sobre a cultura européia-ocidental, enquanto a agressão injusta à Nação Líbia perdurar.




Como contraponto à defesa de civis pelos americanos, alardeada em quase todas as recentes guerras de agressão que promovem, recomendamos o vídeo abaixo, obtido pelo Wikileaks e descriptografado pela Agência Reuters

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Maçonaria brasileira contra a ameaça que vem de fora, por Edvaldo Tavares

26/02/2009

No dia 16 de fevereiro de 2009, (segunda-feira), às 20,00h, no Templo Nobre do Grande Oriente do Distrito Federal (GODF), o general da ativa do glorioso Exército Brasileiro, Eliéser Girão Monteiro Filho, ir.'. maçom, que comandou a 1ª Brigada de Infantaria de Selva, RR, proferiu palestra para maçons e convidados profanos.

Durante a sua fala, alertou sobre o grande perigo da perda de território que o Brasil está correndo. O general, grande especialista em guerra na selva, tendo sido o primeiro colocado no Curso de Operações de Selva, em 1999, CIGS (Centro de Instrução de Guerra na Selva), Manaus, com larga experiência na Amazônia, contrário a retirada da população não-índia da Reserva Indígena Raposa/Serra do Sol (RIRSS), em conseqüência de suas atitudes nacionalistas, contrárias às do governo federal, durante o comando da brigada, foi transferido para a Diretoria de Transportes e Mobilização do Exército onde ocupa a chefia, em Brasília. Foi agraciado com a comenda da "Ordem do Mérito do Forte São Joaquim", concedida pelo governo de Roraima.

General Monteiro, em pleno exercício do comando da 1ª Brigada de Infantaria, protagonizou uma situação inusitada, na qual, o comandante de uma área na Amazônia, responsável pela segurança de autoridades do governo federal, inclusive do Ministro-Chefe Roberto Mangabeira Unger, titular da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo (SEALOPRA), e sua equipe, durante visita à Assembléia dos Tuxauas, no Surumu, RR, foi proibido de acompanhar, juntamente com parlamentares federais e estaduais, a comitiva.

Existe uma crença em Roraima, que a causa da retaliação do governo federal, transferindo o general para uma função administrativa em Brasília tenha sido porque o comandante da brigada recebeu o deputado federal Márcio Junqueira (DEM), acompanhado de uma comissão de arrozeiros contrários a demarcação da reserva em área contínua. A transferência foi muito lamentada em Roraima, recebendo o governo Lula duras críticas.

No início da palestra, general Monteiro chamou a atenção para o perigo que representa a distante fronteira norte da Amazônia, quase despovoada, ausente de qualquer tipo de poder governamental. Em projeção, demonstrou como ocorre o perigo, rotulado de vazio de poder, ausências de população e órgãos governamentais. Lembrou o desconhecimento de grande parcela da população brasileira sobre a Amazônia e que muitos confundem Rondônia (RO) com Roraima (RR). Fez questão de lembrar as diversas citações de líderes mundiais de que a Amazônia não pertence aos países em que está situada, mas sim, que é patrimônio da humanidade, devendo, portanto, ser internacionalizada. Disse também para os presentes, que líderes internacionais mencionaram que a soberania do Brasil sobre a Amazônia é relativa. Deu conhecimento de como surgiu a denominação Raposa/Serra do Sol. Na explicação frisou que ao norte da atual reserva existe uma comunidade indígena denominada de Raposa e ao sul, a localidade de Serra do Sol, entre as duas existia um grande criador de gado bovino, com milhares de cabeças. Sabotadores, interessados em objetivos contrários ao país, matavam as cabeças de gado, levando o criador a ruína e morte. Dessa maneira, juntaram as duas localidades e passaram a reivindicar toda a área como Terra Indígena Raposa/Serra do Sol que, o malfadado governo de Luís Inácio Lula da Silva, por decreto do Ministro da Justiça, Márcio Tomás Bastos, criou a Reserva Indígena Raposa/Serra do Sol (RIRSS).

Manifesta surpresa causou em alguns membros da assistência quando, em projeção, sobrepôs o mapa do Brasil ao da Europa -- o continente europeu desapareceu, escondido sob o mapa do território brasileiro. Os presentes puderam comprovar quão gigantesco é este nosso país, maior do que a Europa.

Traçando um paralelismo com a sociedade secreta mais poderosa da Idade Média, os Cavaleiros do Templo, os templários, e o poder que exerceram durante sua existência, frisou que os mesmos carregavam uma bandeira, a cruz vermelha no peito. Como mensagem dada, acredito, por todos os presentes, compreendida, ressaltou que para o Brasil continuar do mesmo tamanho e venha a ser uma nação poderosa, é necessário que todos os brasileiros se unam e carreguem com verdadeiro patriotismo a bandeira do país.

No final da exposição, perguntei como repercute em Roraima a tentativa americana e inglesa de concentrar tropas na Guiana (antiga Guiana Inglesa), junto à fronteira brasileira, que estavam sendo desembarcadas de dois vasos de guerra, um americano e outro inglês, fundeados longe do porto, no Mar do Caribe, casualmente descoberta, em 1993, governo do Presidente Itamar Franco, para invadir Raposa/Serra do Sol, logo que fosse assinada a demarcação da RIRSS. Para quem não está lembrado, as Forças Armadas Brasileira, inopinadamente, tiveram de trocar uma manobra já planejada para a região sudeste e sul, pela Operação Surumu, em Roraima. Era começo de setembro de 1993 e tudo estava preparado para as manobras conjuntas das FFAA nacionais abrangendo a cidade de Ourinhos, à margem do rio Paranapanema, perto de Santa Cruz do Rio Pardo e de Assis, SP, indo até Cambará e Jacarezinho, Paraná. As pressões internacionais para que fosse efetuada a demarcação da RIRSS se intensificavam, diante da certeza da assinatura do decreto. Em seguida, a ONU, devido à insistência dos falsos representantes dos povos indígenas de Roraima, reconheceria a criação da, na época, primeira nação indígena mundial, cuja capital seria a maloca da Raposa, às margens da rodovia que corta toda a região de leste para oeste. Possivelmente avisado, Itamar Franco não assinou a demarcação. Aviões de transporte de tropas, de combate, caças e diversos aviões Tucano, artilharia antiaérea, ficando os pilotos civis proibidos de efetuarem vôos sobre áreas, sob o risco de serem abatidos, tomaram conta de Roraima. Voadeiras lotadas de soldados patrulhavam os rios Maú, Urariquera e Uailã. Helicópteros do 1º, 2º e 3º esquadrões, helicópteros Pantera (HM-1) e Esquilos da Aviação do Exército, fizeram parte das operações de combate. Tropa de páraquedistas militares e militares adestrados em guerra na selva foram empregados. Navios da Marinha de Guerra do Brasil e aviões da Força Aérea Brasileira, com os seus efetivos participaram das demonstrações do preparo para o combate. A não-assinatura e a mensagem de guerra das FFAA brasileiras de que a invasão e a posse internacional da RIRSS por soldados americanos e ingleses não se faria sem grandes baixas, foi entendida, fazendo-os desistir. A resposta do general Monteiro foi de que participou da operação.

- Edvaldo Tavares - Tenente-Coronel médico do Exército Brasileiro. Especialista e Perito em Medicina de Tráfego. Autor do livro: "Sucesso na Vida é para Qualquer Um. Inclusive para Você!".

- artigo recebido para publicação em 23/02/09

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

TODOS AO ATO ESTADUAL EM DEFESA DO EMPREGO E DOS DIREITOS (manifesto assinado por várias entidades civis)

O MANIFESTO ABAIXO ESTÁ SENDO PUBLICADO COM ATRASO, POR FORÇA DA DATA DE SEU RECEBIMENTO, MAS É PUBLICADO ASSIM MESMO EM RAZÃO DO SEU CONTEÚDO)

O mundo vive sob uma grave crise econômica. No início, governos e economistas famosos insistiram que se tratava de uma crise no mercado imobiliário norte-americano. Porém, com a falência de bancos e de grandes empresas, queda das bolsas de vários países, a recessão nos Estados Unidos, Europa e Japão, não há como negar a profundidade da crise e de que sua duração será de longo prazo.
Diante desta crise os governos do mundo inteiro têm utilizado o dinheiro público para socorrer os donos dos bancos e das grandes empresas. Parece até que os banqueiros e os grandes empresários são pessoas miseráveis e que se não receberem esses bilhões dos governos vão morrer de fome ou pedir esmolas nas ruas.
Por outro lado, cresce o número de desempregados no mundo e em particular no Brasil (foram mais de 1,5 milhão até janeiro). Os empresários receberam dinheiro público e o utilizaram para demitir. Esse dinheiro público vai faltar na saúde, e educação e na moradia, neste sentido já houve o corte de 37 bilhões de reais pelo governo Lula.

A CRI$E CHEGA FORTE EM MINAS GERAIS
Capital Nacional do Desemprego. Este é o título dado à região metropolitana de Belo Horizonte pela grande imprensa, comentando as 64.246 demissões ocorridas em Dezembro, o que em termos relativos é a maior do país. Descontando as contratações, BH perdeu 21.059 postos de trabalho, ou 1,64% do total. (O Estado de SP, 25/01)
Em Minas Gerais a queda da produção industrial e o rebaixamento dos índices de crescimento econômico são fatos inegáveis. O aumento das taxas de desemprego e as medidas propostas pelas grandes empresas e indústrias de redução de salários e direitos atormentam a vida dos trabalhadores e do povo em geral. Esta crise não tem limites, ou seja, não é de curta duração e não se restringe a setores específicos da economia.
No estado a situação é grave. Cerca de 200.000 trabalhadores foram demitidos somente em Dezembro, totalizando uma perda de 88.062 postos de trabalho. As empresas siderúrgicas, metalúrgicas e mineradoras são as que mais estão demitindo e a indústria mineira já teve uma retração de 25% de seu PIB.
Ou seja, na época das “vacas gordas”, os empresários tiveram lucros recordes, sem que isso se revertesse em benefícios para os seus trabalhadores. Agora com a crise, querem fazer com que os trabalhadores paguem a conta, através de suspensão de contrato de trabalho, redução de salários e de direitos, banco de horas e etc, com a desculpa de amenizar o volume de demissões.
A Vale, por exemplo, segunda maior mineradora do mundo, que lucrou R$ 25 bilhões em 2008 e tem R$ 15 bilhões em caixa, está demitindo, cancelando contratos com terceirizadas e agora propõe uma “licença remunerada” que vai reduzir pela metade o salário de seus funcionários, enquanto quer remunerar seus acionistas (61% deles estrangeiros) em 2,5 bilhões de dólares! (Fonte: www.vale.com.br)
A FIAT de Betim, maior unidade industrial de Minas, já demitiu cerca de 2 mil trabalhadores diretos e mais 2 mil em suas empresas terceirizadas, gerando uma crise em todo o setor de autopeças.
A Belgo Bekaert, do grupo Arcelor-Mittal, uma gigante do setor siderúrgico, demitiu 200 e aprovou a suspensão do contrato de trabalho de 1.300 funcionários por 1 ano, pagando 55% do salário, enquanto o governo federal injeta dinheiro para cobrir o restante.

CONTRA A CRI$E, O CAMINHO É A UNIDADE NA LUTA!
Não podemos aceitar que esta situação continue. É preciso que o governo federal, estadual e as prefeituras tomem medidas no sentido de garantir os empregos e os direitos dos trabalhadores.
Acreditamos que apenas uma luta forte, tenaz e unificada pode fazer ouvir e valer os nossos direitos. Vamos apoiar e dar continuidade à luta dos trabalhadores da Vale de Itabira e Congonhas; dos metalúrgicos do ABC e de São José dos Campos; de todos os trabalhadores que lutam contra as demissões e em defesa de seus direitos.
Por isso, chamamos todos os trabalhadores de Minas Gerais, a sociedade civil organizada, entidades e lideranças políticas, sindicais e comunitárias, igrejas, associações de moradores e movimentos sociais a juntar-se a nós na luta por:

1. Nenhuma demissão. Reintegração de todos os trabalhadores demitidos;
2. Pela manutenção dos direitos conquistados pelos trabalhadores em décadas de luta;
3. Redução da jornada de trabalho para 36 horas semanais, sem redução de salário, para que todos possam trabalhar;
4. Que os governos federal, estadual e as prefeituras tomem medidas que garantam a estabilidade no emprego por 2 anos;
5. Isenção de tarifas da CEMIG, COPASA e passe livre para os desempregados;
6. Extensão do seguro desemprego para 2 anos;
7. Pela reestatização da Vale e estatização das empresas que demitirem massivamente;
8. Nenhum corte no Orçamento Público de Minas e dos Municípios em 2009;

Participe!

12/02 - ATO ESTADUAL EM DEFESA DO EMPREGO E DOS DIREITOS

(concentração em frente à FIEMG, caminhada até um ponto central da cidade, entrega de documento na prefeitura, governo estadual e assembléia legislativa)

SJPMG – Sindicato dos Jornalistas
SINDIFISPMG
SINDEESS
STIGMG
SINDREDE-BH
SINTAPPIMG
SINDUTE-Subsede Contagem
FSDMMG
CONLUTAS
INTERSINDICAL
CTB
MLC
MST
BRIGADAS POPULARES
MLB
Ocupação Camilo Torres
DCE UFMG
AMES-BH
UCMG
UEE-MG
UJC
UJR
PSTU
PCB
PSOL
PCR

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Para não dizer que não falei do carnaval, por Pedro Porfírio

Apesar da ampla e diversificada repercussão da coluna sobre os maus presságios que rondam o PDT como um espectro agourento, é de todo impossível escrever sobre qualquer coisa que abstraia o grande acontecimento nacional: desde ontem, os bravos cidadãos brasileiros estão às voltas com a semana momesca, de onde nada há a declarar que venha a desprezar os encantos dessa catarse sazonal compensatória de transcendia explícita.
Semana, sim, que vai de quinta a quinta, no mínimo. Porque já nesta sexta-feira será impossível encontrar uma viva alma envolta numa faina mais embaraçosa. Nessas horas, não há parâmetros sociais. A transmudação para um outro reino, fantasioso ou simplesmente relaxado, está no mais anêmico dos sangues pátrios.
É a trégua cega, que a todos seduz como uma mescla de todas as manifestações do corpo e da alma. Não há explicação lógica. Não há preocupação com crises ou quinquilharias semelhantes.
Pode ser qu e essa "libertação" temporária acometa outros povos do mundo, nesta ou em outras efemérides. Mas por estas terras tropicais e lânguidas, a ascensão do rei gorducho tem o condão da esbórnia ansiada como a panacéia de todos os sofrimentos pretéritos e futuros.
A esbórnia ansiada
É algo que qualquer filósofo, cientista político ou outro tipo de mago terá visíveis dificuldades para explicar. Porque o carnaval é um paradoxo existencial: quanto mais escapa ao populacho, quanto mais é privatizado como espetáculo para inglês ver, mais a massa subalterna se sente comprometida, numa sintomática assimilação de uma sociologia de conformismo extremado.
O carnaval de hoje não tem mais nada com o entrudo d'antão. Não oferece mais o palco iluminado para os folguedos espontâneos no desvario dos corpos movimentados em alegres cordões, nos blocos formados ao acaso, com o seu humor cortante.
Pode até ser que aqui e ali ainda haja sobreviventes da alegria descompromissada, que a tantos compositores inspirou na ficção dos pierrôs e colombinas. Mas esses podem estar desafiando a industrialização da festa, expondo-se ao ridículo e ao isolamento.
O que nesta cidade carioca se busca avidamente é uma oportunidade para estar no cenário central, seja entre os foliões que pagam para sair nas endeusadas escolas de samba, seja morrendo numa boa grana para ter direito a ver os desfiles de perto, ao vivo e a cores.
Nesse palco já por si seletivo ainda existe o carnaval exclusivo dos camarotes milionários, onde rola tudo, até, de vez em quando, um pouco de samba no pé. São os espaços comprados por grandes marcas de bebidas e outros produtos que caem bem para o consumidor nesse ambiente de exibicionismo incontido.
Como espetáculo transmitido para o mundo inteiro pelas cores da televisão, não há grandes diferenças entre este e os carnavais que passaram. No momento, além dos faturamentos por dentro e por fora , os donos das escolas passaram a vender patrocínios, em função dos quais montam seus enredos e dispõem suas alas e carros alegóricos.
É a exploração do mercado elevada ao extremo. Aquela que se diz a maior festa popular do mundo é uma grande fraude que, além de tudo, embranqueceu. Fraude como tantas outras que viraram entidade monitora dos nossos hábitos e costumes, como ferramenta indispensável em todos os ramos da manifestação social, política e econômica.
A saga dos fugitivos
Fora da catedral privativa dos sambas que repetem as mesmas melodias e abusam de lugares comuns e clichês em suas letras direcionadas, há a maratona dos fugitivos.
O Estado do Rio de Janeiro, como nenhum outro aglomerado do mundo, oferece exílios dourados aos que não quiserem ouvir o ronco das cuícas. Para o norte e para o sul há praias e balneários paradisíacos. Mas não é só isso. As serras próximas oferecem o cerne de uma natureza ge nerosa e exuberante.
Vale a pena fugir e isso não é privilégio dos que buscam as ilhas de Angra dos Reis, as praias de Búzios ou a paisagem verdejante de Petrópolis e Friburgo. Apesar das estradas proibitivas, como a Rio-Santos que leva á costa verde e nos coloca de cara com a histórica Parati, há uma corrida febril em busca da festa do interior.
Nessa expedição, todos já sabem que terão de penar antes de chegar ao destino, tantos são os interessados em espreguiçar à distância, onde o mar é mais misterioso ou onde as centenárias árvores dão os tons calmantes de um ambiente distante das neuroses urbanas.
Não interessa a ninguém, nem aos que ficam para ver ou para se exibir, nem aos que se mandam pelos duvidosos caminhos engarrafados, qual o preço será pago por esses dias de folgança.
Vive-se uma trégua na guerra de uma realidade incerta e isso é tudo. É de tal forma a ascendência desses dias que não sei quantos ainda, como este obcecado que lhes escreve, vão se da r ao trabalho de abrir o computador para ler estas mal traçadas linhas.
Ou para procurar saber a quantas anda a vida neste mundo de tramas pérfidas e esmagadoras.
coluna@pedroporfirio.com

- publicação autorizada pelo autor, em 20.2.09

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

"CRIANÇA, FAVELA E ESSAS COISAS" - por mateus alves da silva

Caros amigos,

o título não é meu, mas de um vídeo documentário produzido em 2007 pelo projeto de conclusão de curso dos graduandos em jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva (de Belo Horizonte), que pretende apresentar o "olhar da criança sobre a comunidade em que ela vive". Mais exatamente, apresenta parte do cotidiano das crianças moradoras do Aglomerado da Serra (maior favela dessa capital).

A foto que compõe sua capa é um primor de composição e beleza.

Lá estão eles sentados na laje, de costas para a a objetiva que captou o momento.

São sete, e dá para imaginar suas perninhas balançando à beira da lage e do abismo que se estende no largo universo da cidade à frente, esbarrado apenas pelas montanhas mineiras ao fundo, azuis como o céu que as abraça. À frente, a cidade, enorme, ou como dizem: - "o asfalto. Lá a gente não gosta de ir muito não, porque tem muito plaboy e eles num gosta da gente".

São sete siluetas iguais, e a linha do horizonte corta apenas a do menorzinho, à direita, que está em pé sobre os chinelos e parece segurar qualquer coisa. Talvez um brinquedo qualquer, talvez as próprias mãos.

Que estariam pensando naquela tarde de sol?

O último, da esquerda,´como se disse, era tímido demais. Tanto é que, no vídeo, aparece dizendo apenas isso: - "oh, véi".

Outros, na gravação, falam de sonhos, de serem médicos, de virarem jogadores de futebol e outras mirabolices.

Um deles, aliás, faz questão de frisar o seguinte: - "inda bem c'o falei que é sonho, sô!"

Pois bem.

O da esquerda, 14 anos, já pode ser riscado da foto.

Estava soltando pipa, brincadeira de que muito gostava.

A certa hora, largou o brinquedo, subiu outro lanço de lage, para se ter com amigos de mesma idade.

Estes, porém, estavam se entretendo com outras coisas, ali guardadas. Ou deixadas "nos responsos", como se diz.

Uma delas, por acaso, era uma pt, dessas de pente no cabo.

Um deles o recebeu com brincadeiras sem modo, gritando, imitativamente: - polícia! mão na cabeça!

Teve tempo de dizer: - "oh, véi, pára! Num gosto dessas brincadeira".

O outro, sem saber que a pt, mesmo sem o pente, pode abrigar uma bala na câmara e na agulha, quando engatilhada, puxou. No pescoço, mortal.

Para nós, do asfalto, é incrível que 14 anos de sonhos possam terminar assim, numa poça rubra, que as águas de verão recente já devem ter lavado.

É incrível.

Leonel Brizola carregava no sotaque para dizer o seguinte: - "essa estóória ... de violêência, é um escâaaandalo! As elites, a classe méédia, entram com o patrimôônio, os carros, os toca-fitas!

Essa garotaaada da periferia, porém, entra com a vida!

É um escâândalo!"

Concordo, grande Brizola.

É um escândalo mesmo. Uma vergonha.

Vou ali vomitar e já volto.

- Mateus

- texto enviado para publicação em 19.2.09

SAIR DA DEPRESSÃO, por Adriano Benayon

09.02.2009 – Adriano Benayon*

As emissões do FED, o banco central privado e independente dos EUA, vêm crescendo com incrível aceleração. Só nos últimos seis meses, as novas emissões chegaram a US$ 8 trilhões. Entretanto, qualquer economista dotado de alguma competência, e não condicionado pelas palavras de ordem do sistema, está vendo que mesmo emissões dessa grandeza fantástica são, de longe, insuficientes para deter o colapso financeiro nos EUA. A situação não é diferente no Reino Unido, nos países do euro e na Suíça.

Nos EUA passam de US$ 165 trilhões os derivativos dos quatro bancos com maior exposição. Em todo o Mundo, segundo o Banco de Liquidações Internacionais (BIS na sigla em inglês), o estoque, em valor nominal, dos derivativos é da ordem de US$ 600 trilhões. Ninguém conhece o valor real, ou de mercado, desse Himalaia de lançamentos eletrônicos, mas quem acompanha a seqüência do colapso financeiro e examina suas causas, sabe que ele é pequena fração do valor nominal deles.

Sabe também que essa fração decresce à medida que a depressão da economia real entra em cena. Com esta, perdem cada vez mais valor os ativos finais sobre os quais os manipuladores do mercado fizeram assentar (?) a montanha de títulos derivados.

En passant, a oligarquia financeira mundial, cuja liderança tem no inglês sua língua materna (Reino Unido e EUA), não permite que os âncoras de televisão e demais comunicadores das redes jornalísticas usem palavras descritivas da realidade. O colapso do sistema financeiro e o das moedas mundiais de reserva - como dólar, euro, libra “esterlina” e franco suíço – deve ser mais que claro para todos, pelo menos desde 2007.

Isso podia ser percebido, há muito mais tempo, por quem acompanhasse a expansão dos ativos financeiros nos últimos anos e o crescimento explosivo dos derivativos. Mas os comunicadores só falam em crise, como se se tratasse de algo passageiro.

Depressão é outra palavra banida. É evidente, desde 2008, a derrocada econômica e social, início da depressão, que será provavelmente mais longa e profunda que a de 1930 a 1943. Mas os papagaios do sistema continuam falando só em recessão e dizendo que ela poderá terminar este ano ou no próximo.

Para dar exemplo gritante, o principal banco exposto em derivativos nos EUA, o J.P. Morgan/Chase, os tem em valor nominal de 87,7 trilhões. Seus ativos financeiros somam US$ 1,77 trilhão (quase 50 vezes menos que o valor nominal dos derivativos), e a base de capital é 400 vezes menor.

Como assinalou Andrew Hughes, em artigo de 27 de janeiro, dados como esse são oficiais e disponíveis nas estatísticas do Controlador da Moeda dos EUA. Entretanto, como o analista previu, eles não estão sendo discutidos no debate do Congresso dos EUA ao votar novos socorros com dinheiro público em favor dos bancos enrascados com os derivativos.

O que o FED e o Tesouro dos EUA fazem é jogar mais gasolina na fogueira da futura hiperinflação, a qual só ainda não está presente por haver a demanda por consumo e por investimento despencado em decorrência da depressão em marcha. Esta, por sua vez, advém do colapso do crédito em face dos rombos nos balanços dos bancos, por causa de derivativos apoiados, como castelos de cartas, em ativos cada vez mais frágeis.

O dólar vinha caindo até o colapso ter levado investidores não-norte-americanos a se voltar de novo para os títulos do Tesouro americano. A sobrevida do dólar provém do fato de os europeus se terem metido ainda mais fundo nos derivativos. Mas, em função da hiperinflação em dólares e do endividamento astronômico do Tesouro dos EUA, não vai demorar a ir para o espaço a idéia de que seus títulos possam ser porto seguro.

Isso não significa, como crêem alguns observadores, o fim do poder da oligarquia anglo-norte-americana, cujas dinastias comandam os governos dos EUA e do Reino Unido, sem falar nos dos quase-satélites europeus e outros, além dos das periferias. Essa oligarquia comanda as mentes, Mundo afora, através das universidades e controla o poder militar através daquelas potências e de suas associadas subalternas.

De qualquer modo, para evitar afundar-se no caos financeiro e na depressão, o único caminho para o Brasil seria desatrelar-se, o mais possível, da “comunidade internacional”, um enorme eufemismo para mascarar relações imperiais que fazem perpetuar o subdesenvolvimento do País em condições sociais, culturais e políticas crescentemente lastimáveis.

* - Adriano Benayon é Doutor em Economia. Autor de “Globalização versus Desenvolvimento”, editora Escrituras. benayon@terra.com.br

- Publicado no Monitor Mercantil, São Paulo, 13.02.2009
Publicado no Alerta Total, SP.
-Recebido para publicação no Blog, em 18.2.09

A “MENTALIDADE MAGINOT”, por Manoel Soriano Neto

A 1ª Guerra Mundial transcorreu sem qualquer brilho estratégico. Aquele conflito foi uma guerra de trincheiras, metralhadoras e arame farpado, eminentemente defensiva. A França, um dos países vencedores, construiu na fronteira com a Alemanha, a famosa “Linha Maginot”, para conter o ímpeto de um ataque inimigo, com a finalidade de assegurar os prazos necessários à mobilização. Lá se afirmava que em face da inexpugnabilidade da Maginot (por ela, não se passaria: “Ici on ne passera pas”), não haveria mais necessidade da criação de Divisões Blindadas ou de se prolongar o serviço militar: era a “mentalidade Maginot”, expressão cunhada, ao depois. Ou seja, a “Linha Maginot” tornou-se uma justificativa para que as FFAA francesas se privassem de inovações bélicas e de formas modernas de combate. Porém, não era assim que pensavam o Japão, a Rússia e, principalmente, a Alemanha. E com a inexplicável ilusão francesa e aliada, o mundo viu-se surpreender com a invasão da Polônia e a queda inacreditavelmente rápida da Holanda, Bélgica e França...
Desafortunadamente, no Brasil, desde os anos de 1990, uma “mentalidade Maginot” impregnou-se nos governantes e nas elites dirigentes. Nas duas últimas décadas, ocorreu uma brutal fragilização da expressão militar do Poder Nacional. O País renunciou à aspiração de, pelo menos, ser uma potência regional, como provam os inúmeros acordos e tratados que avençamos com Organismos Internacionais, lesivos aos nossos interesses estratégico-militares. E o fato se agravou, sobremaneira, na atualidade, em vista do grande desafio que é a Amazônia, hoje alvo prioritário da cobiça internacional, como é por demais consabido, mormente com a equivocada exacerbação de políticas voltadas para as causas ambientalistas e indígenas.
A política indigenista brasileira, infelizmente, contabiliza três grandes êxitos: 1) a homologação de colossais reservas indígenas, em área contínua e na faixa de fronteira (como as de Roraima), sendo certo que 13% (!) do território nacional estão reservados para os índios; 2) o Decreto n° 5051/2004, que promulgou a lesiva Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual pouco se fala, com relação "aos povos indígenas e tribais", na qual é repetida, exaustivamente, a expressão "povos indígenas", uma porta aberta para a criação de enclaves ultanacionais, com vistas à internacionalização, em especial, de nossa Amazônia; 3) a aprovação, em setembro de 2007, da Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, da ONU, com o entreguista voto do Brasil, visando ao enfraquecimento dos Estados Nacionais, um crime de lesa-pátria, com a intenção de secioná-los, criando-se Estados (ou "Nações Indígenas") dentro de Estados Soberanos. Tal Declaração confere um status especial de autonomia aos índios e, se transformada em Tratado ou Convenção, e for referendada, em duas votações, por 3/5 das Casas do Congresso, terá força de Constituição, "ex vi" da EC/2004, recepcionada pela Lei Magna, no § 3°, de seu artigo 5° (o § 4°, do mesmo artigo, reconhece o Tribunal Penal Internacional).
E mais: o atual presidente da República homologou, em área contínua, a descomunal Reserva Indígena Raposa Serra do Sol, no estado de Roraima, onde outra, a Ianomâmi, quase seis vezes maior, já existia, o que “reterritorializou” o mais novo estado brasileiro, inviabilizando-o como ente federativo autônomo (de onde querem agora expulsar - em plena crise econômica mundial - os arrozeiros e agricultores não-índios, que vêm contribuindo com 11% do PIB estadual). E o que seria, racialmente, o "não-índio", no meio de uma população já totalmente miscigenada, como a da Amazônia, havendo no Brasil, graças ao bom Deus, uma "raça cósmica", mistura de todas as raças, sem prevalência de qualquer delas? Será que a FUNAI (ou quem de direito) pode estabelecer critérios para tal, ao arrepio de cláusulas pétreas da CF/88 e da "Lei Afonso Arinos"? Com essas e outras “espadas de Dâmocles” sobre o Brasil, poderão ser criadas 226 (!) “Nações Indígenas”, correspondendo, repita-se, a 13% do território nacional, “balcanizando-se “, particularmente a Amazônia, no dizer do eminente Professor Marcos Coimbra. A propósito, o Primeiro Mandatário do País afirmou, recentemente, que os aborígines se encontram na fronteira amazônica, garantindo a sua posse para o Brasil, bem antes do descobrimento (eram terras, à época, da Espanha, Senhor Presidente; e que não nos esqueçamos da "questão do Pirara", de triste memória...). Por seu turno, os "doutos e sapientes" antropólogos da FUNAI, defensores da "caótica" política indigenista nacional, afirmam, peremptoriamente, que não causa qualquer risco à nossa soberania, a ocupação, somente por poucos índios, de descomunais áreas (pois eles precisam "perambular"), riquíssimas em minerais estratégicos, junto às fronteiras (!). Ora: afirmar-se que os silvícolas são apenas usufrutuários de terras da União, é uma vã e ingênua ilusão, uma cortina de fumaça, eis que em reservas indígenas, o cidadão brasileiro comum só entra, como já é do conhecimento de todos, se autorizado pela FUNAI ou por ONGs estrangeiras, predadoras e espiãs. E agora surge, por força de um Deceto, a solução salvacionista, a "solução- talismã": a criação, nas terras indígenas, de frágeis Pelotões Especiais de Fronteira (quando lá dever-se-iam instalar, como vem pugnando o Cel Gélio Fregapani, Organizações Militares operacionais, como Companhias ou Batalhões de Infantaria da Selva); diga-se que somente com essas Tropas se poderia oferecer resistência, algo eficaz, contra uma invasão de Nação ou de coalizão de Nações hegemônicas, como previsto em nossa "estratégia da resistência" (da qual, tanto se evita falar...), quando a supremacia aérea será, por óbvio, do(s) invasor(es), além de estarmos proibidos de usar minas terrestres, em face da subserviente adesão do Brasil à Convenção de Ottawa, de 1996. É mais uma ilusão de que, assim, o problema da soberania nacional estaria solucionado. Pura ingenuidade, pura “mentalidade Maginot”, quando se sabe (vejam e ouçam o depoimento de Orlando Vilas Boas, amiúde transmitido pela TV Bandeirantes) que somente com a vivificação das fronteiras e de toda a Amazônia, com índios e não-índios, por meio de vilas, cidades, etc, se assegurará ao País aquelas imensas áreas, as quais não devemos permitir que sejam internacionalizadas, como desejam apátridas e entreguistas de todos os matizes.
Que as lições da História sirvam de luzeiro, máxime às nossas elites pensantes, pois o Brasil não pode continuar iludido, subserviente e acovardado.
Manoel Soriano Neto – Cel Ref, de Infantaria e Estado-Maior, Historiador Militar

-recebido para publicação no Blog em 16.2.09

SERRA, SOL, RIQUEZAS E RAPOSAS, por Arthurius Maximus .

Escrevi uma série de artigos sobre a situação da demarcação de terras indígenas no Brasil e, especialmente da reserva Raposa Serra do Sol em Roraima.

A repercussão desses artigos foi grande e até índios do norte do país se manifestaram. Mas, finalmente chega a hora da verdade; e o STF tem em mãos a inacreditável responsabilidade de garantir para TODOS os brasileiros (sejam eles, brancos, índios, negros, amarelos, mestiços ou “puros” (conceito mais estúpido)); a soberania sobre recursos naturais de valor incalculável e que despertam o interesse e o olho grandes das potências internacionais.

Sem alarmismo e sem posar de “Arauto do Apocalipse”, basta analisar-se friamente as informações que dispomos e os recentes acontecimentos internacionais envolvendo as potências econômicas estrangeiras; para que nos seja claro que “algo pode estar acontecendo”.

Será mesmo mera coincidência a reativação da IV Frota americana que “patrulhará” nossas fronteiras marítimas e estará em condições de “nos ajudar” em questão de minutos? Será mesmo que a presença maciça de estrangeiros na Amazônia é uma ficção alarmista e que índios estão falando inglês e abandonando o português? (Mostrado ontem 26/08, na TV Bandeirantes) Será mesmo, obra de ficção, que governos europeus e norte-americanos, patrocinam e derramam recursos financeiros enormes nessas ONG’s de fachada que fomentam a violência dos índios e “exigem” a demarcação de “reservas” em áreas extensas de nossas fronteiras? Será que os “líderes” indígenas, vinculados a essas ONG’s, já afirmam que não acatarão qualquer decisão contrária do STF e que farão justiça com as próprias mãos (até o último índio)?

Talvez, devamos acrescentar a essa inacreditável obra de ficção apocalíptica a enorme e ostensiva presença de unidades armadas pesadamente, compostas por dezenas (ou centenas) de “funcionários” da empresa de segurança Blackwater (que recruta mercenários para os EUA no Iraque e no mundo), ocupando plataformas de petróleo ao longo da costa brasileira e que também estão baseados na selva amazônica em “comunidades” de “ONG’s” estrangeiras onde somente com autorização judicial se pode entrar porque estão na reserva Yanomami? (ordens do ex-presidente FHC – Leia ao longo do artigo)

E olha que quem afirma isso nem sou eu; um alarmista e ficcionista de primeira. É um reles e comum general do Exército Brasileiro em uma entrevista do Jornal O Dia (leia aqui) e que descreve como o Exército descobriu isso, de forma clara, limpa e cristalina: “(…) O coronel que até o ano passado comandava batalhão na região da (reserva indígena) Yanomami contou que estava fazendo patrulha em um barco inflável com quatro homens em um igarapé quando avistou um sujeito armado com fuzil. Um tenente disse: ‘Tem mais um cara ali’. Eram cinco homens armados. O tenente advertiu: ‘Coronel, é uma emboscada. Vamos retrair.’ Retraíram. Perguntei: ‘O que você fez?’ Ele disse: ‘General, tive que ir ao distrito, pedir à juíza autorização para ir lá.’ Falei: ‘Meu caro, você, comandante de um batalhão no meio da Amazônia, perto da fronteira, responsável por nossa segurança, só pode entrar na área se a juíza autorizar? Ele respondeu: ‘É. Foi isso que o governo passado (Fernando Henrique) deixou para nós. Não podemos fazer nada em área indígena sem autorização da Justiça”. E continua: “(…) O coronel contou que pegou a autorização e voltou. Levou três horas para chegar ao igarapé, onde não tinha mais ninguém. Continuou em direção à fronteira. De repente, encontrou ancoradouro, com um cara loiro, de olhos azuis, fuzil nas costas, o esperando. Olhou para o lado: 10 lanchas e quatro aviões-anfíbios, no meio na selva. ‘Na sua área?’, perguntei. ‘É’, respondeu. Ele contou que abordou o homem: ‘Quem é você?”. Como resposta ouviu: ‘Sou oficial forças especiais dos Estados Unidos da América do Norte’. O coronel insistiu: ‘Que faz aqui’. E o cara disse que fazia segurança para uma pousada. Ele perguntou qual pousada? Ouviu: ‘Pertencente a um cidadão americano’. Quinze homens estavam lá, armados. Hallibourton? Blackwater?”

Eles já têm bases. Eles já têm tropas. Eles só esperam um cochilo e um “mole” da justiça e desse governo incompetente e que pensa que índio é débil mental ou criança inocente que não pode se corromper ou ter ambições de enriquecer facilmente como qualquer outro ser humano. A inocência de nossas autoridades, o descaso e o desaparelhamento intencional e criminoso de nossas forças armadas, por sucessivos governos “pós-abertura”, colocará em “xeque” as nossas chances de garantir um futuro tranqüilo e brilhante para uma superpotência econômica que pode se chamar BRASIL.

Pense nisso.

Arthurius Maximus 27 August 2008

-recebido em 18.2.09, pelo Blog, sem reservas quanto à publicação

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Ameaças à Amazônia Brasileira - Cel Manoel Soriano Neto

Ameaças à Amazônia Brasileira
A Amazônia brasileira faz parte da Pan-Amazônia ou Gran-Amazônia e detém 60% de toda a sua extensão. Ela possui incomensuráveis riquezas ou tesouros, quais sejam: a) a mestiça população amazônida, aliás, um dos maiores exemplos mundiais de miscigenação, havendo, outrossim, variados “stocks” indígenas de inúmeras etnias de aborígines; b) a sua bacia potamográfica, um verdadeiro mar interior, o “Mare Nostrum Brasileiro”, sendo os principais rios, navegáveis por navios de qualquer calado; c) a água doce de seus incontáveis cursos d’água; d) as jazidas de minérios, muitos deles, estratégicos, de terceira geração; e) a biodiversidade da floresta, com o maior banco genético do mundo e f) a privilegiadíssima posição geoestratégica, eis que cortada pela linha do Equador, o que propicia o lançamento, em excelentes condições, de sondas, satélites, mísseis, foguetes e até de naves espaciais (daí o interesse alienígena, pelo nosso Campo de Lançamento de Alcântara (MA), localizado, aduza-se, na “Amazônia Legal Brasileira).
Evidentemente, tudo isso vem despertando, máxime nos dias atuais, a cobiça internacional, particularmente das Nações hegemônicas (os EEUU possuem 20 (!) bases aéreas ou de radar (as "forward bases") no arco amzônico de Oeste...). Desafortunadamente, essas Nações vêm contando com a falta de patriotismo, a omissão e a leniência das ditas “elites” pensantes e governamentais do Brasil. A fragilidade militar brasileira, tão necessária para a “ocupação, defesa e guarda” da Amazônia (atual mote da Liga da Defesa Nacional) é bem um exemplo desse desastroso descuido, que precisa ser reparado, o mais urgentemente possível.
Em apertada síntese, pode-se alistar, entre outras, as seguintes e atuais ameaças à Soberania Nacional na Amazônia:
a. a caótica política indigenista brasileira, a cargo da FUNAI - que almeja a segregação dos índíos e a criação de “Nações Indígenas” -, atentatória à Unidade Nacional (Unidades linguística e territorial), eis que fracionará o Brasil em vários “Kosovos” de silvícolas;
b. a política ambientalista, ora em curso, sob a orientação do IBAMA, contrária, o mais das vezes, ao desenvolvimento e aos magnos interesses da segurança nacional, haja vista a venda de extensos tratos de terras a nacionais e estrangeiros. Diga-se que a floresta amazônica não pode ser “congelada”, como se um imenso jardim botânico ou uma estratégica e descomunal reserva técnica/almoxarifado fosse, para a utilização, a médio e longo prazos, por países centrais que, por isso, pugnam por seu tombamento como “patrimônio comum da humanidade”;
c. a homologação de colossais reservas indígenas, em área contínua (como as de Roraima), já estando 12% (!) do território nacional reservados para os índios;
d. a perniciosa “Lei de Gestão das Florestas Públicas” (Lei 11284/2006) que prevê o aluguel/arrendamento, por 40 anos, renováveis por mais 40, a nacionais e estrangeiros (!), de grandes trechos da floresta, já tendo sido licitadas 351 áreas para a “exploração sustentável”. Fica claro que a “biopirataria” será tremendamente intensificada;
e. o desmatamento indiscriminado, em especial ao Sul da calha do rio Amazonas, por madeireiros, plantadores de soja, criadores de gado, etc.

f. a existência de inúmeras ONGs, nacionais e/ou estrangeiras, predadoras e espiãs, acumpliciadas com missões religiosas forâneas;
g. o Decreto n° 5051/2004, que promulgou a lesiva Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), com relação aos “povos indígenas", uma porta aberta para a criação de enclaves ultranacionais, com vistas à internacionalização (ou “planetarização”) da Amazônia;
h. a aprovação, em setembro de 2007, da Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, da ONU, com o entreguista voto do Brasil, visando ao enfraquecimento dos Estados Nacionais, um crime de lesa-pátria, com a intenção de secioná-los, por meio de ações independentistas de etnias tribais, criando-se Estados (eufemísticamente chamados de “Nações Indígenas”) dentro de Estados soberanos.
Eis por que é imprescindível reaparelhar as Forças Armadas brasileiras e, cada vez mais, aperfeiçoar a nossa “estratégia da resistência”, com vistas à Ocupação, Defesa e Guarda da Amazônia. Selva!!
Cel Manoel Soriano Neto – Historiador Militar.

"CAPARAÓ" (documentário brasileiro de 2005)

Vale a pena conferir esse documentário, dirigido por Flávio Frederico, com 77 minutos de duração.

Ele retrata a guerrilha do Caparaó, ocorrida em 1966/1967, na Serra do mesmo nome, onde se situa o Pico da Bandeira, entre os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Como dizem, “foi a primeira tentativa organizada de luta armada no Brasil pós 1964, patrocinada por Fidel Castro (Cuba) e organizada por Leonel Brizola de seu exílio no Uruguai (Montevideo). Por meio de vários depoimentos de ex-guerrilheiros, a maioria ex-militares expulsos das forças armadas, jornalistas e policiais militares, o filme revela passo a passo os acontecimentos da ''Sierra Maestra brasileira'', como definiu Carlos Drummond de Andrade na época.”

Tem sido reapresentado, salvo engano, no canal de tv a cabo “Canal Brasil”, que aliás, deveria ser aberto a todos o mais rápido possível.

Não sei se já está em dvd. Se souberem mais sobre isso, avisem-nos

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Amazônia: Bird e WWF cercam milhões de hectares para impedir presença brasileira

MARIANA MOURA

O ARPA, Projeto de Áreas Protegidas da Amazônia, já viabilizou a entrega de cerca de 16 milhões de hectares da Floresta Amazônica para organizações ambientalistas estrangeiras que servem de fachada aos escusos interesses econômicos norte-americanos

Encoberta pela cortina da preservação ambiental, o projeto de cercamento de milhões de quilômetros de riquezas incomensuráveis está sendo implementado no Brasil. Sob a sigla ARPA, o Projeto de Áreas Protegidas da Amazônia já viabilizou a entrega de cerca de 16 milhões de hectares da Floresta Amazônica para organizações ambientalistas que servem de fachada aos interesses econômicos norte-americanos

Gestado nas entranhas do Banco Mundial, implementado pela WWF - principal defensora dos interesses de seus patrocinadores, entre eles a Shell e o governo dos EUA – e avalizado pelo secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), João Paulo Capobianco, somente o ARPA pretende cercar 50 milhões de hectares amazônicos.

Implementadora do ARPA, a WWF-Brasil (ver diretores no quadro abaixo) não teve o cuidado nem mesmo de “aportuguesar” a sigla (Amazon Regional Protected Area) do projeto que é um dos itens constantes do Programa Piloto para Proteção de Florestas Tropicais do Brasil. Conhecido como PPG7, o Programa é patrocinado exatamente pelos países que já destruíram todas as suas florestas, o chamado Grupo dos 7, através de um fundo criado pelo Banco Mundial. Esse fundo é dirigido por ninguém menos do que Paul Wolfowitz, subsecretário de Estado norte-americano, ligado aos cartéis de petróleo, e um dos principais defensores da agressão ao Iraque.

Para justificar suas ações nefastas no Brasil, essas mesmas Ongs produzem “estudos” em que afirmam demonstrar a falta de controle e o “desmatamento” dentro de áreas protegidas que estão nas mãos do Estado. Com isso, buscam levar a opinião pública a acreditar que o cercamento por Ongs estrangeiras de imensas áreas transbordantes de riquezas minerais, hídricas e biológicas é uma forma de “preservação”.

Esse estudos são patrocinados por organizações como a WWF, que, como revelou a Comissão Parlamentar de Inquérito instalada para investigar a evasão de divisas brasileiras pelas famosas contas CC5 do Banestado, figura como recebedora de R$ 438 mil do Interamerican Foundation (IAF), Ong mantida financeiramente e ideologicamente pelo Congresso dos EUA que tem como diretores três deputados e seis empresários nomeados diretamente pela Casa Branca.

Outra Ong, conhecida dos ribeirinhos e diretamente envolvida na implementação do ARPA, é o Instituto Socioambiental (ISA), que também recebeu recursos do Congresso norte-americano através do IAF. Entre seu rol de ex-diretores figura ninguém menos do que o principal formulador do Projeto de Lei de Florestas – atualmente sob apreciação do Senado Federal brasileiro - João Paulo Capobianco, secretário de Florestas do MMA.

Infiltrados no Ministério do Meio Ambiente, os agentes do interesses oligopolistas participam inclusive das comissões que decidem quais áreas serão lacradas. Em seu site, a WWF se vangloria de ter “marcado presença nas discussões do Fórum Nacional de Áreas Protegidas, bem como da Política e do Programa Nacional de Áreas Protegidas, participando de atividades como a definição de diretrizes para processos de consulta pública e a formação, funcionamento e fortalecimento de conselhos de gestão de unidades de conservação”.

Foi assim que conseguiram colocar o governo brasileiro contra todos os produtores, assentados, ribeirinhos, e até mesmo indígenas do entorno da BR-163, no Pará. São quase mais de 8 milhões de hectares que estão sob “limitação administrativa provisória”, desde fevereiro deste ano. Atitude louvada não só pelas Ongs, mas pelo governo e pela mídia norte-americana.



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Veja abaixo o currículo “ecológico” dos diretores da WWF-Brasil:

Presidente, Álvaro Antonio Cardoso de Souza: ex-presidente do Citibank Brasil, ex-diretor regional do Citibank para a América Latina.

Vice-Presidente de Finanças e Controle, Octávio Castello Branco: diretor de Infra-estrutura do BNDES do governo FHC, acumulando também a função de membro do Núcleo Executivo da Câmara de Gestão da Crise do Setor Elétrico (GCE). Antes de sua passagem pelo setor público, atou como diretor Executivo do JP Morgan no Brasil, tendo alcançado a posição de co-presidente das operações do banco.

Vice-Presidente de Relações Internacionais, Mario Frering: empresário, atua principalmente nos setores de recursos minerais e produtos florestais, no Brasil - inclusive Amazônia e no exterior, além de agroindústria e setor imobiliário. Ex-presidente dos Conselhos de Administração da Caemi Mineração e Metalurgia e da Companhia do Jari, maior latifúndio do mundo.

Vice-Presidente de Arrecadação, Roberto Paulo Cezar de Andrade: membro da Fundação Telefônica e do Centro de Estudos Latino-americanos da Universidade de Harvard.

*Informações retiradas do site da WWF

(artigo recebido sem reserva quanto à publicação)

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Petróleo da camada pré-sal muda patamar do Brasil entre potências - entrevista com Ildo Sauer

08/12/2008 13:26
Ildo Sauer
Por Zé Dirceu

Image Pré-sal eleva Brasil ao patamar de potência

Para o engenheiro nuclear e ex-diretor da Petrobras, Ildo Sauer, um dos maiores especialistas brasileiros em petróleo, as recentes descobertas na camada do pré-sal ampliam o poder de negociação e barganha do Brasil no mundo.

Image Petróleo da camada pré-sal muda patamar do Brasil entre potências

Esta é a conclusão de Ildo Sauer, um dos maiores especialistas em petróleo e energia no Brasil, ao analisar a importância das descobertas recentes da Petrobras, em termos de poder de negociação e barganha mundial. Segundo Ildo, dentro de 3 ou 4 anos, o combustível de Santos do pré-sal, que vai da costa de Santa Catarina a do Espírito Santo, estará com seu potencial dimensionado."Numa analogia, do ponto de vista de posicionamento e negociação, (para o governo, o petróleo do pré-sal) é algo equivalente ao que tem hoje nas mãos os países que, militarmente, detém a bomba atômica", avalia.

Nesta entrevista, o ex-diretor de Gás e Energia da Petrobras, também explica como a estatal pode levar a cabo sua missão na política energética nacional. Ele observa que, apesar da política neoliberal, o governo Fernando Henrique Cardoso, e de presidentes que o antecederam, conseguiu resistir e pôde desenvolver, ao longo dos seus 50 anos, tecnologia que empresa nenhuma no mundo foi capaz.

Atualmente, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo, Ildo explica as razões pelas quais é a favor de uma mudança no marco regulatório do petróleo. Ele considera "amadurecida" a discussão a respeito e, portanto, que a decisão pode ser adotada já.

Analista crítico e um dos formuladores da política energética do Partido dos Trabalhadores, Ildo defende a realização de um balanço da gestão e da política de energia nos últimos anos no Brasil. E prevê: "ele vai mostrar que no setor elétrico, onde o problema foi maior por causa de uma lacuna regulatória, o mercado livre, de 2003 a 2007, comprou cerca de 25% da energia elétrica, mas subvencionada pelas estatais a um custo que quase as deixou quebradas."

[ Zé Dirceu ] O que as descobertas na camada pré-sal representam para o Brasil? Quais os principais desafios e oportunidades se apresentam a partir daí?

[ Ildo Sauer ] A descoberta do pré-sal é uma oportunidade nova de discutir a história recente do Brasil, dos caminhos trilhados nos vários segmentos, especialmente no da energia. É uma oportunidade de montar e estruturar um novo projeto econômico-social para o país.

Também permite um balanço sobre a trajetória recente na área de energia e, principalmente, sobre os instrumentos adotados no país, herdados da reforma ultraliberal que chegou atrasada aqui, mas com força nos anos 90, e que indicava que só a hegemonia do mercado com supremacia financeira era capaz de conduzir as transformações e organizar a vida e a produção.

O pré-sal resulta de um processo histórico mais longo. Nasce da luta do povo brasileiro, na década de 40, pela soberania e autonomia energéticas. Após a II Guerra, o brasileiro percebeu que, sem a intervenção deliberada e organizada a partir do Estado com a Petrobrás - e em paralelo, a Telebras, a CSN e outras organizações -, não seria possível fazer o avanço das forças produtivas chegar em todos os cantos do Brasil.

A primeira missão da Petrobras naquele tempo foi garantir que o petróleo, com o seu papel de energia concentrada, capaz de promover maior produtividade e circulação, chegasse a todos os cantos do Brasil.
Criada com essa visão, em sua primeira fase, garantiu que o país fosse abastecido, respeitando suas contradições econômicas e regionais.

Mas o fato é que com o choque do petróleo em 1973 e 1979 e a crise econômica internacional, as taxas de crescimento mundial se reduziram drasticamente, e surgiu um movimento defendendo que as empresas estatais fossem extintas.

No Brasil, criamos o pró-álcool, o pró-óleo (óleo vegetal), o próprio biodiesel e o programa nuclear. À Petrobras foi dada a missão de buscar a auto-suficiência, atingida em 2006. Só uma empresa organizada com pessoal, tecnologia, vínculos e com processo produtivo interno e externo, foi capaz de, em 30 anos, buscar petróleo onde ninguém tinha buscado: nas profundezas do mar. No começo, a poucos metros e depois a 3 mil metros.

Nesse sentido, a lição da descoberta é de que um longo processo político e histórico permitiu que uma organização econômica, tecnológica e de avanços da produção, organizada pelos brasileiros, chegasse a algo completamente inédito: descobrir petróleo na camada pré-sal.

Não se sabe, ainda, quanto é - se são 30 bilhões de barris, 50 bi, 80 bi ou até mesmo 250 bilhões. Mas o maior significado é que teremos uma grande reserva, maior do que a americana, algo entre Venezuela, Iraque e o Irã, ou até próximo da Arábia Saudita.

Portanto, o maior significado é que um processo histórico, econômico e político forneceu uma série de respostas à visão dominante nos anos 90, de que a hegemonia do mercado conduzia as transformações. O pré-sal tem esse significado político, além do econômico. Nesse sentido a Petrobras é fruto de um processo altamente exitoso da sociedade brasileira.

Auto-suficiência e pré-sal:
uma vitória sobre o neoliberalismo

[ Zé Dirceu ] Você acha necessário um novo marco regulatório? A Petrobras deixar para trás a legislação que flexibilizou o monopólio do petróleo no Governo FHC, dos leilões e o sistema atual que existe no país?

[ Ildo Sauer ] Sim. Até porque essa descoberta não tem nada a ver com o mito que se propaga na sociedade de que a auto-suficiência e o pré-sal são frutos da liberação da nova Lei de Política Energética, de 1997, do governo FHC.

Muito pelo contrário! Ela se deu apesar do ataque formulado a partir da visão ultraliberal daquele período. Deu-se apesar de todos os impactos que isso teve na forma de organizar o Estado e a produção, e que se materializou no Brasil concretamente com essa lei. Apesar dessa forma de ver o mundo (do governo FHC), a Petrobras deu certo, operando à margem, e se protegendo.

Todo o processo de gestão, de riscos tecnológicos, financeiros, geológicos, é produto de uma empresa que nega o paradigma principal da reforma neoliberal. Qual era esse paradigma? Quebrar a Petrobras, privatizar as refinarias, criar um mercado competitivo e progressivamente dar concessões, baseado nos conhecimentos que a Petrobras tinha construído ao longo de décadas.

A única contribuição da reforma liberal foi a prática de preços de mercado, isto é, o fato de que aqui dentro se pratica preços de custos e oportunidades. O mercado competitivo internacional para os derivados de petróleo permitiu que a Petrobras obtivesse financiamentos no mercado externo, e aqui dentro, para garantir seus planos de investimentos.

No governo Lula, a estratégia se alterou completamente. A Petrobras passou a comprar todos os blocos colocados à venda que podia e sobre os quais teria alguma prospectividade. Nesse sentido, o sucesso da empresa aconteceu à margem.

Outro ponto que indica a exaustão do modelo é o princípio em que ele se baseava, de premiar quem apostasse no risco de exploração e produção, em quem alocasse capital e conhecimento para tentar encontrar o petróleo. No caso do pré-sal o modelo está ultrapassado porque esse risco não existe mais, foi superado pela Petrobras.

Não foi nenhuma outra empresa que formulou o modelo e gastou cerca de US$ 250 milhões em uma primeira perfuração (valor aproximado do primeiro furo do campo de Tupi). Portanto, o pilar que sustentava o modelo regulatório anterior, de premiar o risco de quem investisse, não existe mais.

Claro que ainda existem riscos. É preciso fazer ainda um conjunto de perfurações. Até agora foram feitos pouco mais de 15, todas pela Petrobras, que comprovaram que provavelmente toda aquela formação de milhões de anos atrás, que vai de Santa Catarina até o Espírito Santo - cerca de 250 quilômetros de extensão - pode conter petróleo.

Outro dado importante a justificar a mudança do marco: não se sabe, à luz das 9 rodadas de licitação já feitas – 4 no governo anterior e 5 neste governo – quem de fato detém a área que se sobrepõe a essas partes. Sabe-se que grande parte é da Petrobras, dela sozinha e de alguns parceiros. Mas tem outras, que a própria Exxon detém. Para se saber realmente quem é dono, faz-se necessário concluir o processo exploratório.

[ Zé Dirceu ] Qual seria o modelo para a exploração? O de prestação de serviços, de produção, ou o atual, pelo qual se dá a concessão, cobra impostos, prêmios...

[ Ildo Sauer ] Durante as discussões do programa do atual governo, a proposta hegemônica antes do presidente Lula assumir era a de que se alteraria o modelo. O proposto naquele tempo foi: será concedido o direito de explorar àquela empresa que oferecer não o maior pagamento pela concessão, mas aquela que mostrar capacidade de superar o risco tecnológico, gerencial, financeiro e que, encontrando o petróleo, for capaz de produzir e dar ao governo nacional a maior fração do petróleo produzido.

Uma espécie de cardápio. E de produção compartilhada. São dois modelos que nesse caso do pré-sal podem ser considerados. Hoje, provavelmente, o mais adequado é o de prestação de serviços porque não há mais risco exploratório.

Temos que fazer 100
perfurações entre SC e ES

[ Zé Dirceu ] O de prestação de serviços?

[ Ildo Sauer ] No máximo o de risco compartilhado. Mas para o pré-sal a minha proposta é mais simples. Para outras regiões pode até se discutir outro tipo de modelo. Para o pré-sal só existe um risco, o associado à confirmação. Talvez seja necessária uma estimativa de técnicos. Temos que fazer 100 furos entre SC e o ES para delimitar as jazidas.

[ Zé Dirceu ] Isso pode custar entre US$ 6 bilhões a US$ 10 bilhões.

[ Ildo Sauer ] Prováveis US$ 6 bilhões de dólares. A tendência é que os custos caiam, porque normalmente os serviços associados ao petróleo flutuam com o preço deste. Com o petróleo a US$ 60 dólares o barril, é possível que caia. O primeiro poço custou 250 milhões de dólares. Os outros, US$ 60 mi. Por isso estimo US$ 6 bilhões.

Eu proponho que o governo federal contrate, via Tesouro Nacional, Ministério das Minas e Energias, ou até via Agência Nacional de Petróleo (ANP) se for o caso, pelo custo de serviço, a empresa que tem mais capacidade no mundo de concluir o processo exploratório que ela iniciou.

Contrata a Petrobras porque é a única que tem essa capacitação construída ao longo de 50 anos, substancialmente aprimorada nos últimos anos pela decisão estratégica de buscar esse recurso. Ela faz os cem furos, e confirma se no Brasil hoje há 30 bilhões de barris, como estimam os menos otimistas, 80 a 110 bilhões como estimam outros, ou até 250 a 300 bilhões como alguns imaginam. Traça os indícios possíveis e depois, juridicamente, se determina quais são os direitos dos concessionários que estão na área.

Feito esse plano de avaliação e desenvolvimento, tem-se condições de dizer qual o melhor regime tecnológico para desenvolver essa reserva, não só do ponto de vista econômico, mas também político.

[ Zé Dirceu ] Quais os resultados possíveis?

[ Ildo Sauer ] No lugar onde estiver, qualquer barril de petróleo hoje tem um valor estimado para transações entre US$ 5 a US$ 15. Quem assumir a concessão do petróleo paga esse prêmio. Vamos estimar em uns US$ 10. Se nós descobrirmos 100 bilhões de barris, vezes 10, é US$ 1 trilhão enterrado na área do pré-sal. Se forem 300 bilhões de barris, como os otimistas imaginam, serão US$ 300 trilhões.

[ Zé Dirceu ] Seria o valor do ativo?

[ Ildo Sauer ] Do ativo lá, só que o que ele permite gerar é muito maior no futuro. Imaginem o poder de barganha! Grande parte disso, de 80% a 95%, na minha estimativa, estaria em poder do Tesouro Nacional. Não seria nem da Petrobrás. Aí vai depender muito de onde está o petróleo confirmado, quais os direitos já concedidos.

[ Zé Dirceu ] Talvez esteja totalmente fora da área de concessão.

[ Ildo Sauer ] Totalmente não. Ao olharmos os mapas, vê-se que parte necessariamente está sobre o microbiolitro onde há concessões. Há dúvidas sobre se quem comprou os blocos e fez um plano de exploração aprovado pela ANP sem considerar o pré-sal, tem direito agora, num segundo estágio, a pedir prorrogação de prazo e disputar. Qual o significado econômico disso? O Tesouro e a União teriam um patrimônio, ali do lado, de reserva de valor que pode variar de US$ 1 trilhão a US$ 3 trilhões.

Isso coloca por terra o terceiro mito dos que defendem a manutenção do modelo atual, o de que é preciso preservar a estabilidade regulatória por causa dos investimentos. Não há um capitalista do mundo que sendo convidado a participar do processo produtivo de uma reserva que tenha de 30 bilhões a 300 bilhões de barris, não queira fazê-lo.

Por isso os dois pontos preliminares da proposta que fazemos são: primeiro, não se faz mais nenhuma rodada de concessão de petróleo, suspensão total e cancelamento de qualquer nova rodada de licitação até nunca mais; segundo, vamos gastar de US$ 5 a US$ 6 bilhões de dólares para comprovar quanto é, quanto sai, quanto vale o petróleo do pré-sal.

ImageNova empresa: riscos
políticos e econômicos

[ Zé Dirceu ] É necessário a criação de nova empresa só para cuidar do pré-sal?

[ Ildo Sauer ] Absolutamente não. A nova empresa representa riscos extremados do ponto de vista político e econômico para o povo brasileiro. Risco de ser capturada e virar uma cavalariça de partilha à luz das pressões em qualquer governo. Nem estou falando desse, mas em geral. Se empresas do porte da Petrobrás que tem uma corporação qualificada, organizada, capaz de servir de contraponto, de esclarecimento ao debate público, já estão sujeitas à fortes pressões, imagine criar outra comandada por 1, 2 ou 3 dúzias de pessoas nesse ambiente.

Primeiro, leve-se em consideração, também, que a capacitação para intervir sobre essa indústria tão complexa exige múltiplas habilidades que no Brasil eu identifico só na Petrobrás. No mundo, algumas empresas talvez detenham capacitação semelhante, mas não superior.

Segundo, uma nova empresa dessas não seria mais do que uma gestora de contratos. Não poderá ir muito além porque não tem capacitação industrial. Querendo ou não, até hoje quem produz valor é a intervenção do trabalho socialmente organizado sobre a natureza e a Petrobras é a instituição concreta disso para o mundo de hoje.

É necessário uma empresa para controlar a Petrobras? Não. O Congresso Nacional, o Ministério das Minas e Energia, o governo, a população na rua tem que ajudar a determinar quanto, aonde e porquê vai ser produzido petróleo, dependendo do quanto se comprovar existir no pré-sal.

Para a criação de uma nova empresa, como se tem aventado por aí, pegam como exemplo a experiência da Petoro, da Noruega. Mas são realidades econômicas, tecnológicas e sociais muito distintas. Temos exemplos de empresas desse tipo de gestão na Noruega, em Angola e na Nigéria. São os paradigmas que estão aí, e todos realmente permitem aprendizado. Mas a nossa história é diferente.

Antes da Petrobras completar 100 anos,
outra fonte de energia será necessária

[ Zé Dirceu ] Outra questão que surge é a intensidade com que serão exploradas essas reservas e a destinação do excedente, a contraparte cobrada em impostos, concessões ou na partilha da produção. Vamos supor que passemos a produzir por dia 4 milhões de barris de petróleo, com consumo de 3 e exportação de 1 milhão a US$ 50. É necessário, então, a criação de um fundo soberano ou esse recurso pode ser transformado em impostos indo para o Orçamento Geral da União para investir em infra-estrutura, educação, inovação?

[ Ildo Sauer ] A experiência internacional na área de qualquer recurso mineral, especialmente nos da área de energia, nos traz algumas lições. Todos esses recursos têm ciclos.

Temos uma tendência geral, especialmente no caso do petróleo, de crescer em valorização. Façamos um balanço simples. Toda a humanidade na virada do século 19, estava em torno de 1,6 bilhão de habitantes. Na virada do último milênio, já estávamos próximos a 6,7 bilhões. Em grande parte, expansão populacional ocorreu pela expansão econômica. A produtividade foi intensificada profundamente com o uso intensivo de energia que potencializa a força de trabalho humano.

Então o petróleo esteve substancialmente no centro disso, junto a outras fontes de energia para se manter a eletricidade. Para fazer isso, nós gastamos 1 trilhão de barris de petróleo mais ou menos. Há ainda 2 trilhões de barris de petróleo convencional estimados como remanescentes, e outros 2 trilhões no horizonte, que apresentam dificuldade de exploração e custos bem maiores.

Tiramos hoje, cerca de 87 milhões de barris/dia. Isso significa que, nos próximos 25 anos, o segundo trilhão estará exaurido. E nos meados dos anos 2040, antes da Petrobras completar 100 anos, o terceiro trilhão estará indo. Evidentemente, para manter o modo de produção e organização, outra fonte, possivelmente mais cara, terá que surgir.

[ Zé Dirceu ] Leva-se de três a cinco anos para descobrir e quantificar o que tem de exato na camada do pré-sal?

[ Ildo Sauer ] Vai demorar.

[ Zé Dirceu ] São tecnologias novas.

[ Ildo Sauer ] São duas coisas paralelas. A primeira é concluir o processo exploratório. Não sei quanto tempo vai demorar porque, mantido o modelo atual, vamos continuar vendendo um bilhete premiado de loteria. Temos que mudar o modelo. Já saber quanto (tem no pré-sal) é uma decisão política. Estimo que em três a quatro anos seja possível concluir o processo exploratório desde que haja essa decisão política afirmativa de fazê-lo.

Em paralelo, a Petrobras está desenvolvendo tecnologias. Começou um pouco com a experiência de Jubarte. É um desafio. Mas quem já cumpriu os desafios que se lhe foram impostos nos últimos 50 anos, e tendo vivido lá dentro, não tenho dúvida em afirmar que isso será superado. A questão é saber qual a melhor estratégia, a melhor solução. Para mim, em um prazo de 2 a 3 anos, continuamente, aumentaremos a capacitação nessa área e responderemos objetivamente sobre o que fazer, se o Brasil comprovar ter 100 milhões de barris de reservas no pré-sal.

[ Zé Dirceu ] 80 milhões, um número intermediário...

[ Ildo Sauer ] Seja 80 milhões. Ela teria, ou melhor, o governo terá em mãos, do ponto de vista econômico, instrumentos estratégicos extraordinários para negociações internacionais, finanças e empresas.

[ Zé Dirceu ] Quantos trilhões relativos ao barril a US$ 10?

[ Ildo Sauer ] Numa analogia, do ponto de vista de posicionamento e negociação, é algo equivalente ao que tem hoje nas mãos os países que, militarmente, detém a bomba atômica. Por isso, defendo fortemente a idéia de parar com o modelo que temos até agora e resolver isso. Depois será um debate longo, muitos ajustes até do ponto de vista econômico até chegar a forma como historicamente muitas nações ancoraram sua capacidade produtiva na apropriação do excedente econômico gerado em condições muito especiais.

Em relação ao excedente econômico, temos que aprender os critérios da sua gestão para evitar sua captura por interesses de pressões momentâneas que acontecem, necessária e continuamente, em todo e qualquer momento. Para evitar que ele vire parte do superávit primário, por pressão da banca ou questões outras de gestão do governo, organização da base e do Congresso.

Nem é necessário definir quanto será explorado, nem como vai ser produzido, nem o que fazer com o excedente. Nas linhas gerais estamos todos de acordo. Como fazer é a questão que está em aberto.

[ Zé Dirceu ] O petróleo fica nessa faixa de US$ 60? Isso terá impacto político na Venezuela, no Equador, na Bolívia, nos países árabes, no Irã.

[ Ildo Sauer ] Veja, US$ 50 dólares / US$ 60 ainda permitem um excedente econômico enorme. Nesses países os custos de encontrar e de retirar são muito baixos. Na Árabia Saudita não chega a US$ 1 - no Brasil é US$ 7. O que dobra aqui para US$ 14 são as participações especiais, royalties e tributos. Gerou-se uma expectativa enorme, até porque US$ 50 / US$ 60 dólares por barril, no atual contexto – US$ 70 talvez - é um valor que tem se mantido por um longo prazo.

Mas há outras alternativas no horizonte, do ponto de vista concorrencial. Vejamos o álcool. Não há espaço no mundo para se produzi-lo de biodiesel e ser suficiente para substituir o petróleo. Está iludido quem acredita nisso. Mas há um espaço grande, que pode ser ocupado por essas fontes por custos próximos a esses, US$ 50 a US$ 70 por barril.

Não farei previsão de como vai evoluir o petróleo, mas entendo que o preço sustentável é de US$ 50 / US$ 60. Pode haver pequenos desvios para cima ou para baixo. Os valores de US$ 150 a US$ 200 foram fruto muito mais de uma conjuntura temporária e de um processo de especulação. Você tem razão, no mundo inteiro o volume efetivamente transacionado, o chamado mercado a termo onde se entrega o produto e se paga, é mais ou menos 1/5 a 1/10 do volume das transações de apostas e especulação nos preços do petróleo para cima e para baixo.

[ Zé Dirceu ] Ele se concretiza mesmo a 10%.

[ Ildo Sauer ] Claro, concretiza-se aí e dá a diretriz de longo prazo.

[ Zé Dirceu ] Virou uma moeda, além de uma commoditie. Um papel.

[ Ildo Sauer ] É um papel. Como um índice na bolsa - o índice do petróleo. É claro que o preço segue estrategicamente uma tendência, que eu prevejo de valorização crescente até que uma outra alternativa, aceitável ambientalmente e socialmente, possa ocupar parte do seu espaço.

Nós trabalhamos estrategicamente na Petrobras para tornar os biocombustíveis essa possibilidade para os anos 2040/2050. Ter uma demanda elevada.

Desde o fim dos anos 90 até agora, a Europa e os EUA estavam com uma taxa pequena, mas constante e estável, de crescimento. A China e a Índia com uma taxa alta, de 10% a 12%, sugando todas as matérias primas, especialmente a energia do mundo. Isso criou um ambiente no qual o minério de ferro e todas as commodities passaram para a conjuntura de longo tempo de depreciação nas perdas e trocas dos países que produziam bens primários dos anos 70 aos 90. De repente, isso se inverte.

Temporariamente, o petróleo caiu para um patamar que me parece razoável. Agora, ninguém terá a bola de cristal para dizer que fica assim se houver uma conflagração internacional, porque muitas empresas investiram bilhões de dólares, e é uma estrutura toda ela interconectada e financiada. Até a Petrobrás, que tem um caixa menor, mas tem.

[ Zé Dirceu ] Mais do que previsão você deu os elementos para poder avaliar.

[ Ildo Sauer ] Falamos de um horizonte de 30 a 40 anos. Veja, com 300 milhões de barris, a Arábia Saudita produz 10 milhões de barris por dia. Se descobrirmos 250 milhões, vamos produzir 10 ou 12 milhões de barris por dia. A definição é um fator qualitativo, político, que já está na mesa há muito tempo e tem sido varrido para debaixo do tapete da discussão.

Qual o excedente econômico produzido pelo petróleo hoje? Vou citar os números do balanço da Petrobrás de 2006 e 2007 - R$ 120 bilhões. Quem compõe a Petrobras? São seus trabalhadores, seus acionistas que tem o capital, os bancos que financiam parte desse capital, e os governos que lhe dão acesso aos recursos naturais, segurança jurídica e tudo o que é necessário para operar.

Essa discussão é importante para quem diz que a Petrobras é uma empresa americana que só vai gerar lucros para as ADRs. Em 2006: R$ 10.4 bi foram para os trabalhadores sob a forma de retribuição pela força de trabalho; R$ 10.9 bi foram para os bancos e financiadores; R$ 27.4 bi foram para os acionistas (30% ADRs Nova York, 30% BOVESPA, inclusive o FGTS); e 40% direto para o governo, para o Tesouro.

Só que desses R$ 27.4 bilhões dos acionistas, só 30%, R$ 9 bilhões, foram pagos como dividendos. O restante foi capitalizado como fundo de reserva para valorizar ações. E os outros R$ 72 bilhões foram para quem? Para todos os governos, federal, estaduais e municipais a título de royalties, participações especiais, impostos e taxações sobre a renda. Há municípios que tem um índice de renda per capita enorme e um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) baixíssimo. E o que foi para o governo federal foi para o superávit primário.

Em 2007, os números foram parecidos: R$ 120 e poucos bilhões. Os trabalhadores ficaram com cerca de R$ 11 bilhões; os bancos com R$ 13 bilhões; e os governos com R$ 72 bilhões. Isso permite mais uma conclusão: a de que a Petrobrás, mesmo do jeito que é hoje, com capital parcial e substancialmente nas mãos das empresas privadas, no fundo, é uma organização social produtora de valor.

Então, de certa forma, aquilo que achamos que é uma discussão só do pré-sal, é uma discussão que está mais do que madura sobre todo o marco regulatório do petróleo. Hoje estamos queimando uma parte pequena do nosso futuro, o petróleo, que não volta mais já que está sendo queimado.

[ Zé Dirceu ] Se nesses seis anos de governo Lula tivéssemos destinado para a Educação essa contraparte do governo federal na Petrobrás que foi para o superávit, tínhamos feito uma revolução social.

[ Ildo Sauer ] É, a intervenção da força de trabalho organizado do sistema Petrobras, e de seus associados sobre a natureza, está gerando um valor econômico enorme, partilhado na sociedade dessa maneira.

Isso desmascara a discussão de que é necessário uma outra "empresinha" para gerenciar a produção do pré-sal, porque o que interessa no processo social de produção é como esta é organizada e como se partilha o seu resultado. Hoje, a partilha do resultado social da produção é essa.

De qualquer maneira, mesmo no regime de concessões, onde o excedente econômico vai em grande parte direto para a concessionária que correu o risco, é esse o resultado. Imagine num contrato melhor de prestação de serviços ou mesmo de produção compartilhada...

A discussão política está em aberto, mas no pré-sal tem que fazer só de prestação de serviço, porque depois de concluído o processo de perfuração, não tem razão de ser diferente. Para outras áreas talvez (o modelo) da produção compartilhada. Se nós pensamos na "empresinha", devíamos ter pensado no que fazer com a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Não tem porque ter três modelos regulatórios em paralelo: um direto, a "empresinha", e ao mesmo tempo a ANP continuar com o mesmo discurso e a mesma prática.

Do ponto de vista industrial, é ingênuo acreditar na criação de uma empresa capaz de se desincumbir de uma tarefa tão complexa em curto espaço de tempo, gerenciar de maneira competente, intervir em maior ou menor graus na gestão da organização da produção.

Padrão Petrobras modelou
o crescimento da indústria

[ Zé Dirceu ] O pré-sal é uma oportunidade para desenvolver essa indústria.

Image[ Ildo Sauer ] Sim. O grande impacto que a gestão da Petrobras provocou nos últimos anos foi o de criar aqui dentro a capacitação industrial. Enquanto no Brasil nos anos 60, 70, 80, não tinha a qualidade da qual se falava tanto, foi o padrão Petrobras que modelou o crescimento da nossa indústria.

A segurança no petróleo (para explorá-lo e produzi-l0) exigia isso. Haviam os manuais da Petrobras de fabricação e as empresas orgulhavam-se de atendê-la. Nos anos 90, isso foi meio esquecido. Dizia-se que estava superado, que se compra aonde for mais barato. Foram buscar plataforma em Cingapura.

Felizmente isso foi mudado de 2003 para cá. Mudamos porque a Petrobrás recebia críticas enormes relativas às plataformas de Barracuda e Caratinga feitas pela Hallyburton. Custaram muito mais caro, atrasaram quase 2 anos, e a Petrobras teve que gerir o encerramento dos contratos tecnicamente.

[ Zé Dirceu ] Qual o benefício com a experiência de se fazer aqui dentro?

[ Ildo Sauer ] Primeiro, maior oportunidade de emprego, não só nas plataformas mas, também, nos gasodutos, nas usinas de biodiesel e nos navios de toda a natureza. A indústria naval brasileira ressuscitou desse arranjo produtivo comandado pela Petrobras.

Segundo, o controle de custos. E a vantagem para o país de que, com as plataformas feitas aqui, temos milhares de pessoas empregadas, valor produtivo aqui dentro.

Mas a estatal, inclusive, teve outras vantagens enormes com a mudança, que foi o controle maior do prazo – todos os projetos dessa natureza atrasam normalmente; o fato de estar próxima, ao lado de quem estava gerindo a produção das plataformas; e trabalhar com leis nacionais para controlar o contrato.

Temos toda a estrutura
na área da biomassa

[ Zé Dirceu ] O Brasil tem várias outras alternativas além da energia das hidrelétricas. Temos a biomassa, a energia solar, a eólica, gás, excedente de petróleo. Como situar essas alternativas que o Brasil tem para além do petróleo e dos combustíveis fósseis?

[ Ildo Sauer ] Essa plataforma energética brasileira nas outras áreas, a exemplo do que aconteceu com a do petróleo, poderia ser uma alavanca de crescimento econômico e social e de inserção internacional.

Lamentavelmente desperdiçaram parte disso ao focar o trabalho em uma política energética que só evita o apagão. Do ponto de vista da energia elétrica, o Brasil tem um potencial hidráulico enorme. O potencial de grandes usinas chega a 250 mil megawatts - temos 75 mil operando e outros 10 mil/15 mil em avaliação para contratação em Santo Antonio e Jirau. Temos ainda cerca de 150 mil megawatts para desenvolver, 17 mil megawatts de pequenas centrais hidrelétricas.

Temos um potencial eólico que pode chegar a muito mais do que o hidráulico, muito mais espalhado, dependente de regimes de ventos. Embora o custo para explorá-lo ainda hoje seja elevado é, porém, menor do que o custo de Angra III anunciado agora.

Temos toda a estrutura na área da biomassa. A Petrobras tomou a frente nisso a partir de 2003, quando reconheceu que a autosuficiência brasileira estava sendo conseguida à custa de apenas três combustíveis líquidos, que o petróleo tinha esse horizonte de mais 20 a 40 anos de hegemonia, e que nós, no Brasil, tínhamos de caminhar na direção dos biocombustíveis.

O Programa de Biodiesel foi lançado, mas teve dificuldades na forma como foi encaminhado. Desde o começo não trabalhamos suficientemente na construção da cadeia produtiva, aquela que estaria vinculada ao resgate social pretendido e anunciado. A Petrobrás construiu alianças de baixo para cima com a comunidade, Estados e organizações sociais para desenvolver a cadeia produtiva e, sobretudo, desenvolver a tecnologia inexistente no Brasil e no mundo, daquilo que parecia promissor, que era a mamona. Não sei se a mamona é a saída, mas nunca achei que fosse sozinha. Então, houve equívocos. Mas eles podem ser corrigidos. Precisamos construir a cadeia produtiva com um vínculo político.

É preciso um balanço da gestão
de energia nos últimos anos

[ Zé Dirceu ] Sem multa...

[ Ildo Sauer ] Precisa ser feito um balanço da gestão e da política de energia nos últimos anos. Ele vai mostrar que no setor elétrico, onde o problema foi maior por causa de uma lacuna regulatória deixada pelo mercado livre, este, de 2003 a 2007, comprou cerca de 25% da energia elétrica (o equivalente a metade do PIB industrial brasileiro) por 25% dos custos e às custas das estatais. Essa lacuna regulatória, que gerou muitas avaliações positivas nas estranhas de certos segmentos, deixou as estatais praticamente quebradas. Ainda ontem, li o resultado de 2004 quando se anunciou o modelo do setor elétrico, e dizia lá: "todos foram ouvidos e o governo só arbitrou". Se só arbitrou foi em torno das forças mais importantes. O modelo do biodiesel sofreu das mesmas coisas.

[ Zé Dirceu ] Você está pessimista?

[ Ildo Sauer ] O Brasil hoje tem a plataforma energética mais positiva do mundo com o pré-sal, área para os biocombustiveis, e a possibilidade de mudar inclusive a estrutura fundiária e agrícola em termos efetivos. E contamos com energia eólica e com urânio se precisarmos no futuro, com geração de energia com bagaço de cana e com gás natural. Sabe o que falta aqui? Uma eficaz formulação de política e uma eficiente gestão da energia.

[ Zé Dirceu ] Você não construiria mais usina de energia nuclear?

[ Ildo Sauer ] Nem Angra III. Temos 150 mil de megawatts hidráulicos que custam muito menos do que Angra III. Temos de 40 a 50 mil megawatts de eólicas. Temos 17 mil de PCHs. Temos a possibilidade de fazer de 10 a 15 mil megawatts com geração de bagaço de cana. Temos a capacidade de usar o gás natural não nas termelétricas, mas de forma flexível, ou em cogeração.

Não descarto o uso da energia nuclear como uma das formas extremamente necessárias em alguns contextos - China, Japão, Coréia, por exemplo. Mas tem que mudar o tipo de reator nuclear, como vínhamos fazendo no Brasil e paramos. Mas nem isso é prioridade, ainda, pelo contexto.

O que precisamos é reformular nossa política energética compreendendo todas as dimensões e, acima de tudo, montar um eficiente sistema de gestão. Cometemos enormes equívocos de políticas e de gestão de energia nos últimos anos. O preço disso já está sendo cobrado agora.

---entrevista extraída do “Boletim Site do Zé Dirceu”, em 04/02/09

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

História da Previdência (1) - Sebastião Nery

A HISTORIA DA PREVIDENCIA

Rio - No dia 9 de outubro de 1821, em Lisboa, no Livro das Leis, folha 23, da Chancelaria Mor da Corte e Reino, foi registrada esta Carta de Lei do dia 29 de setembro de 182:
- “Dom João, por Graça de Deos e pela Constituição da Monarquia, rei do Reino Unido de Portugal, Brazil e Algarves, d´aquem e d´alem mar, em Africa & C. Faço saber a todos os meus Súbditos que as Cortes Dcretarão o seguinte :
As Cortes Geraes, Extraordinárias e Constituintes da Nação Portugueza, reconhecendo que hum dos meios de promover a Instrucção Publica he contemplar as pessoas que dela são encarregadas, decretarão:
PROFESSORES
1º - Os Professores e Mestres Régios, de hum e outro sexo, de primeiras letras, Grammatica Latina e Grega, Rethorica e Filosofia, que por nespaço de trinta annos contínuos ou interpolados houverem regido louvavelmente, e sem nota, as suas respectivas cadeiras, serão Jubilados com vencimento de todo o seu Ordenado”.
2º - (O art. 2º tratava da “qualificação de serviço pela Junta da Directoria Geral dos Estudos”, e daí “subirá ao Governo, para que se defira”).
3º - “Aquelles Professores, Mestres, ou Mestras, que, apezar de compreendidos no artigo 1º, quizerem todavia e poderem continuar no exercício do Magistério, perceberão de mais em cada hum anno a quarta parte de seus respectivos Ordenados”.
“Paço das Cortes, em 29 de setembro de 1821”.
PORTUGAL
No dia 1º de outubro de 1821, a Carta de Lei foi enviada “à mesma Junta da Directoria Geral dos Estudos, e mais authoridades a quem o conhecimento e execução do referido Decreto pertencer, que o cumprão e executem tão inteiramente como nelle se contém. Dado no Palácio de Queluz, em 1º de outubro de 1821. El Rei com Guarda”.
Nascia, assim, em 29 de setembro de 1821, a Previdência Social no Reino Unido de Portugal, Brazil e Algarves, através de um “Decreto das Cortes”, que Dom João VI, “Rei por Graça de Deos e pela Constituição da Monarquia”, mandou “executar tão inteiramente como nele se contém”.
Começava bem, com a aposentadoria integral (“Jubilação com vencimento de todo o seu Ordenado”), dos professores e professoras (“Professores e Mestres Regios de hum e outro sexo, desde as “ primeiras letras” até “Grammathica Latina e Grega, Rethorica e Filosofia”).
BRASIL
E no Brasil? Há uma incrível coincidência ou competência de comunicação, para aqueles tempos ainda tão pouco comunicáveis.
Em Lisboa, em 1º de outubro de 1821, o pai, Dom João VI, comunicava (“Faço saber a todos os meus Subditos”) a aprovação, pelas Cortes, da aposentadoria (“Jubilação”) dos professores e professoras, com salário integral, por ele homologada em 29 de setembro de 1821.
No Brasil, no mesmo dia 1º de outubro de 1821, seu filho, o Príncipe Regente Pedro de Alcântara, de nome quilométrico como lista telefônica (Pedro de Alcântara Francisco Antonio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon), só proclamado Imperador Dom Pedro Iº um ano depois, em 12 de outubro de 1822, assinava Decreto “concedendo aposentadoria, na época denominada jubilação, aos mestres e professores com 30 anos de serviço”.
MARINHA E EXERCITO
“O Decreto seria o primeiro texto legal que registra assunto relativo à Previdência Social no Brasil, embora não se tenha noticia do efeito pratico da medida. Aqueles que, tendo completado o tempo, não quisessem se aposentar, permaneceriam em atividade e teriam um abono adicional de ¼ do salário – prenuncio do que, mais tarde, seria o abono de permanência em serviço, beneficio pago pela Previdência moderna até 1991, equivalente a 25% do salario de beneficio”.
“Anteriormente, em 1793, fora instituído um plano de proteção dos oficiais da Marinha, que concedia pensão à viúva e aos filhos dependentes. Os órfãos e viúvas de oficiais da Marinha de Guerra passaram a contar com um plano de beneficência em 1795, e, em 1827, o mesmo beneficio foi criado no âmbito do Exercito. Já em 1835, um programa de amparo vinha em socorro dos funcionários do Ministério da Economia, abrangendo o pessoal do Estado de um modo geral”.
SÃO PAULO
A noticia da Carta de Lei das Cortes de Lisboa, homolog ada por Dom João VI em 1821, criando a aposentadoria integral de professores em Portugal e no Brasil, e, assim, fazendo nascer a Previdencia Social em Portugal e no Brasil, só foi publicada aqui quatro meses depois, na “Gazeta do Rio”, nº 9, em 19 de janeiro de 1822, com o decreto na integra.
Terça-feira, dia 27, o Brasil oficialmente comemorou os 86 anos da Previdência Social no pais. É uma data fundamental nas lutas sociais do Brasil. E uma data sobretudo paulista, porque foi em 24 de janeiro de 1923 que o presidente mineiro Artur Bernardes sancionou, e virou lei, a “Lei Eloi Chaves”, projeto do deputado paulista Eloi Chaves (Sábado eu conto).

SEBASTIÃO NERY – extraído do blog do autor, em 03/02/09.

História da Previdência (2) - Sebastião Nery

A história da Previdência (2)
Em 1921, o advogado, empresário, fazendeiro e deputado paulista Eloi Chaves, formado pela Faculdade de Direito de São Paulo, secretário de Justiça e Segurança do governador Altino Arantes que comandou a ferro e fogo a repressão contra a greve geral de 1917, ia para Monte Serrat, no interior, “inspecionar uma usina de força que ali instalara há algum tempo”.
Viajava de trem, na antiga Estrada de Ferro Sorocabana, e “ouviu de dois ferroviários informações de que os trabalhadores da ferrovia, principalmente aqueles que exerciam atividades mais desgastantes, como foguistas e maquinistas, mesmo quando atingiam uma idade avançada precisavam continuar trabalhando em razão da necessidade premente de sustentar a família. As locomotivas movidas a lenha exigiam a presença constante de um foguista, que alimentava continuamente a caldeira, sujeitando-se a temperaturas extremamente altas”.
Eloi Chaves
Eloi Chaves procurou os ferroviários Francisco de Monlevade, Alfredo William e Edmundo Navarro de Andrade, inspetor geral, chefe de locomoção e chefe do Serviço Florestal da Companhia Paulista, discutiu com eles o assunto, “socorreu-se dos conselhos de Francisco Monlevade e Adolpho Pinto”, foi para sua fazenda Ermida, em Jundiaí, onde também tinha uma fábrica de porcelana, e lá concebeu e escreveu o projeto de lei que apresentou à Câmara dos Deputados naquele mesmo ano de 1921, criando “em cada uma das empresas de Estradas de Ferro existentes no País uma Caixa de Aposentadoria e Pensões (a primeira CAP do Brasil) para os respectivos empregados”,foi aprovado e virou lei em 24 de janeiro de 1923.
Lei de um paulista, sancionada pelo presidente da República mineiro, Artur Bernardes, com assinaturas do ministro da Viação também mineiro, Francisco Sá, e do ministro da Agricultura, baiano, Miguel Calmon du Pin e Almeida, que aos 27 anos já tinha sido ministro da Viação do governo Nilo Peçanha (1906-1909) e depois foi deputado e senador pela Bahia.
(Esse Calmon era tio de Miguel Calmon du Pin e Almeida, reitor da Universidade da Bahia e ministro da Fazenda de João Goulart, 1962-63.)
A mãe
A Lei Eloi Chaves é a mãe da Previdência Social no Brasil. Todas as lutas e vitórias anteriores, mesmo pequenas, foram avós, algumas bisavós, como o Decreto do Príncipe Pedro de Alcântara em 1º de outubro de 1821.
O discurso de Eloi Chaves na Câmara, apresentando seu projeto, tem a marca de quem sabia e tinha consciência da sua importância histórica:
“Na vida moderna não se compreende progresso sem os trabalhadores, que constituem o sistema circulatório das nações, na paz como na guerra. O homem não vive só para si e para a hora fugaz, que é o momento de sua passagem pelo mundo. Ele projeta sua personalidade para o futuro, sobrevive a si próprio, em seus filhos. Seus esforços, trabalho e aspirações devem também visar, no fim da caminhada, o repouso e a tranqüilidade”.
O artº 2° dizia: “São considerados empregados, para os fins desta lei, não só os que prestarem seus serviços mediante ordenado mensal, como os operários diaristas que executem serviços de caráter permanente”.
A lei, minuciosa, detalhada (48 artigos), generosa, surpreendentemente avançada para a época, até porque concebida e apresentada por um empresário e fazendeiro, ex-secretário de Justiça e Segurança do Estado, portanto ex-chefe de polícia, só nascia assim porque vinha do parto sempre doloroso, quase sempre ensanguentado mas inexorável, das lutas sociais de 1917.
Museu
A casa de Eloi Chaves em Jundiaí é o Museu da Previdência. Disse bem o ex-ministro Cechin:
“A Previdência Social no Brasil surge em 1923, no mesmo contexto do advento das origens do rádio, da Semana de Arte Moderna de 22, da comemoração do Centenário da Independência, momento histórico da reafirmação, aqui e lá fora, da força da Nação brasileira”.
A criação da Caixa de Aposentadoria e Pensões dos ferroviários abriu largo caminho. Com a CAP, passaram a ser garantidos pensão, aposentadoria, assistência médica e auxílio farmacêutico. Veio um órgão responsável pela Previdência Social: o decreto 16.037, de 30 de abril de 1923, criou o Conselho Nacional do Trabalho, para coordenar as CAPs que surgiriam logo a seguir.
Collor
Com a revolução de 30, a Previdência deu outro grande salto. Lindolfo Collor, gaúcho, jornalista, deputado federal de 1923 a 30, avô do ex-presidente Collor, dos principais ideólogos da Aliança Liberal, foi nomeado e criou o ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Até então, a política trabalhista era subordinada ao ministério da Agricultura.
No discurso de posse, Lindolfo Collor chamou o novo ministério de “Ministério da Revolução” e convidou, para colaboradores, “socialistas como Joaquim Pimenta e Evaristo de Morais, precursores do Direito Social no Brasil e participantes dos movimentos populares durante a década anterior, e Jorge Street, empresário paulista notabilizado pelos melhoramentos sociais que introduziu em suas fábricas”. (Termina terça)
- Sebastião Nery, extraído do site da “Tribuna da Imprensa on line”, onde foi publicado em 02/02/09.

História da Previdência (final) - Sebastião Nery

A história da Previdência (fim)
Os poetas sabem das coisas. Fernando Pessoa, como poucos:
“O homem e a hora são um só/quando Deus faz e a história é feita/
O mais é carne, cujo pó/a terra espreita”.
Os três acabam sendo uma coisa só: o homem, a hora e a história. A história é a hora acontecendo. Na hora, o homem faz a história acontecer. Com as lutas do homem, a história vai surgindo do ventre do tempo.
Cada passo dado no Brasil, ao longo de dois séculos, para construir a Previdência Social, foi fruto de todo um longo e penoso processo, permanente e irreversível. Cada fato precedido de muitas e muitas lutas.
É uma bela história, que ninguém contou melhor do que uma brilhante equipe do ministério da Previdência, comandada por Jorceli Pereira de Sousa, que pesquisou, organizou, escreveu, em 2002, com seus companheiros Mônica Cabañas Guimarães, Vinicius Carvalho Pinheiro, Delubio Gomes Pereira da Silva, Tereza Augusta dos Santos Ouro e Francisco Orru de Azevedo, o livro “Os 80 anos da Previdência Social”.
Eloi, Collor, Aluisio
Os três grandes marcos da Previdência no Brasil são a lei do paulista Eloi Chaves, de 1923, governo de Artur Bernardes, a criação do ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (e Previdência), por Lindolpho Collor (avô de Fernando Collor), na “revolução” de 30, governo de Vargas, e a Lei Orgânica da Previdência Social (nº 3.807) de 1960, governo de Juscelino, projeto desde 1947 do deputado Aluisio Alves, do Rio Grande do Norte.
Mas as Nações não caem do céu, como estrelas. Para cada vitória, sempre muitas lutas. A primeira medida governamental com efeito prático foi o decreto 9.912, de 26 de março de 1888, regulamentando o direito à aposentadoria dos empregados dos Correios. Também em 1888, foi criada uma Caixa de Socorros em cada uma das Estradas de Ferro do Império.
Ainda nos fins do século XIX, foram instituídos o Fundo de Pensões do Pessoal das Oficinas de Imprensa, a aposentadoria para os empregados da Estrada de Ferro Central do Brasil, posteriormente estendida a todos os ferroviários, o Montepio Obrigatório dos empregados do ministério da Fazenda e a aposentadoria por invalidez e pensão por morte para os operários do Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro e seus dependentes.
Era a Previdencia Social engatinhando.
Medeiros e Graco
Em 1894, o jornalista, escritor e acadêmico José Joaquim de Campos da Costa Medeiros e Albuquerque, abolicionista e republicano, deputado por Pernambuco e pelo Rio, depois senador por Pernambuco, exilado na Europa de 1910 a 16 por combater a candidatura de Hermes da Fonseca, apresentou projeto criando um seguro contra acidentes do trabalho.
Em 1908, o sergipano Mauricio Graco Cardoso, depois presidente de Sergipe de 1922 a 26, e o paulista Altino Arantes, depois presidente de São Paulo, de 1916 a 20, e candidato a vice em 1950 na chapa de Cristiano Machado, apresentaram projetos criando o seguro de acidentes do trabalho.
Outros projetos com o mesmo objetivo foram apresentados, mais tarde: em 1915, pelos deputados paulistas Adolfo Gordo, cunhado do presidente Prudente de Morais, depois senador, e Prudente de Morais Filho. Nenhum deles conseguiu vencer a resistência conservadora e ser aprovado.
Everardo
A vitória só viria com a luta social, poderosa, na histórica greve operária de 1917, em São Paulo, a maior das duas primeiras décadas do século. No clássico “História das lutas sociais no Brasil” (outro excelente dele é “Memórias de um exilado”), o operário e jornalista espanhol e naturalizado brasileiro, Everardo Dias, que participou das greves de 1917, 18 e 19, quando foi preso e deportado por decreto do presidente Epitacio Pessoa, junto com mais 22 militantes sindicalistas anarquistas, contou:
“Do outro lado da rua, o comandante da cavalaria ordena que a multidão se disperse. Há um momento de tensão e silêncio. Ecoa a fuzilaria. A polícia dispara sobre os operários e a cavalaria investe contra a multidão. Na calçada da fábrica Mariangela há um operário mortalmente ferido. Era José Martinez, jovem anarquista de 22 anos. O dia é 9 de julho de 1917. Era o ponto culminante de uma greve iniciada um mês antes, que logo se alastrou e chegou a mobilizar mais de 70 mil trabalhadores”.
Era presidente da República Venceslau Braz, de São Paulo Altino Arantes e secretário de Justiça e Segurança Eloi Chaves, que aprendeu bem a lição e fez a Lei de 1923. O seguro contra acidentes do trabalho só virou lei em 17 de abril de 1919, dois anos depois da greve de 1917.
Lacerda
Em 1917, o deputado Mauricio de Lacerda, do Rio (1912 a 20), jornalista, vereador e prefeito de Vassouras, pai de Carlos Lacerda, nacionalista e socialista, defensor das lutas e greves dos operários, um dos fundadores da Liga Socialista, havia apresentado um projeto criando o Código do Trabalho, estabelecendo, entre outras medidas, carga horária de 8 horas diárias de trabalho e proibição de trabalho aos menores de 14 anos.
Todo o empresariado (como sempre, no Brasil) ficou contra o projeto de Mauricio de Lacerda, que não foi adiante. Mas Fernando Pessoa sabe mais do que a CNI, a Fiesp, a Firjan e todos os dinossauros patronais:
“O homem e a hora são um só, quando Deus faz e a história é feita”
Como o poeta, o povo também sabe: o Bolsa Família é a aposentadoria dos pobres e a Previdência dos miseráveis.
Sebastião Nery – extraído do site da “Tribuna da Imprensa on line”, onde foi publicado em 03/02/09.